
Tribo Kukukuku – As Múmias Defumadas de Papua Nova Guiné

A prática dos corpos defumados pela tribo Kukukuku, também conhecida como Anga, é uma das tradições funerárias mais fascinantes e únicas do mundo. A tribo, localizada na região montanhosa de Menyamya, na província de Morobe, Papua Nova Guiné, preserva os corpos de seus mortos através de um processo de defumação, transformando-os em múmias. Essa prática cultural é tanto um rito espiritual quanto uma forma de preservar a memória dos ancestrais.
A Tribo Kukukuku (Anga)
Os Anga são um grupo étnico com cerca de 50 mil integrantes que habita as regiões montanhosas remotas de Papua Nova Guiné, particularmente em Menyamya. Este território é conhecido por seu terreno acidentado e clima úmido, que influenciam diretamente a vida e as práticas culturais da tribo. Os Anga são tradicionalmente caçadores e guerreiros ferozes, e sua cultura é fortemente orientada para a reverência aos ancestrais e aos espíritos.
Na cultura Kukukuku, os ancestrais ocupam um lugar central na vida espiritual da comunidade. Acredita-se que os espíritos dos mortos continuem a influenciar a vida dos vivos, e, portanto, é essencial tratar os corpos com grande respeito. A defumação dos corpos é uma forma de honrar os mortos e garantir que seus espíritos protejam a comunidade.
O Processo de Defumação

Dos penhascos de uma aldeia nas montanhas Morobe, os cadáveres carbonizados observam os transeuntes no pé da montanha. Foto: Michael Thirnbeck/ Mangiwau, Getty Images
Após a morte, o corpo é cuidadosamente preparado para o processo de defumação. Primeiro, os órgãos internos são removidos e o corpo é limpo. Em seguida, o corpo é colocado em uma estrutura de madeira suspensa acima de uma fogueira. O fogo não entra em contato direto com o corpo; em vez disso, o calor e a fumaça são usados para secar e preservar a carne e a pele.
O processo de defumação pode durar várias semanas. Durante esse tempo, o corpo é exposto a uma combinação de calor e fumaça, que desidrata e preserva o cadáver, evitando a decomposição. A fumaça do fogo contém propriedades antimicrobianas que ajudam a manter o corpo em um estado de conservação. Os corpos defumados mantêm suas feições e traços físicos, tornando-se múmias que são mantidas em uma posição sentada ou em pé.
Após a conclusão do processo de defumação, os corpos são colocados em locais sagrados, como cavernas ou encostas de montanhas, muitas vezes perto das aldeias. Eles são dispostos de maneira a permitir que os vivos possam interagir com eles, seja através de rituais, oferendas ou consultas espirituais. Essas múmias se tornam um elo tangível entre o presente e o passado, representando a continuidade da vida através dos ancestrais.
Significado Cultural para os Kukukuku

Os moradores da vila de Koke transportam Moimango, membro mumificado há mais de meio século, até seu nicho na falésia. Seu filho (agachado) espera ser mumificado um dia também. Foto: Ulla Lohmann/National Geographic.
Para os Kukukuku, a defumação dos corpos não é apenas uma prática de preservação, mas uma cerimônia espiritual profunda. A presença dos corpos defumados nas aldeias ou em locais sagrados é um símbolo da proteção e da sabedoria dos ancestrais. Acredita-se que os espíritos dos mortos defumados possam interceder em nome dos vivos, garantindo saúde, sucesso nas colheitas e proteção contra inimigos.
A prática de defumar corpos também desempenha um papel importante na preservação da memória coletiva e da identidade da tribo. Cada múmia representa uma figura importante da comunidade, cuja vida e feitos são celebrados e lembrados através dos tempos. As histórias associadas a cada corpo defumado são transmitidas oralmente de geração em geração, reforçando a coesão social e o respeito pelas tradições.
Contato com o Mundo Externo
A prática dos corpos defumados atraiu a atenção de antropólogos e exploradores desde o século XX. Estudos antropológicos documentaram a complexidade e o significado cultural dessa prática, ajudando a preservá-la em face das influências externas. Nos últimos anos, o turismo também começou a chegar a Menyamya, com visitantes curiosos para aprender sobre essa tradição única. Contudo, os Kukukuku mantêm um controle rigoroso sobre como e quando permitem que estrangeiros vejam seus ancestrais, garantindo que o respeito e a dignidade sejam mantidos.