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Jesse Owens – Resistência ao Racismo nas Olimpíadas de 1936

Jesse Owens – Resistência ao Racismo nas Olimpíadas de 1936

Jesse Owens é amplamente lembrado como um dos maiores atletas da história, não apenas por seu desempenho extraordinário nas Olimpíadas de Berlim em 1936, mas também pelo simbolismo de sua vitória em um contexto de segregação racial e supremacia branca promovida pelo regime nazista. Ao conquistar quatro medalhas de ouro nos Jogos Olímpicos de 1936, Owens desafiou as teorias racistas de Adolf Hitler e do Terceiro Reich, tornando-se uma lenda do esporte e um ícone da luta contra o racismo.

Na imagem, Jesse Owens se nega a olhar para a tribuna de Hitler (que já havia se retirado do Estádio Olímpico de Berlim), durante o pódio da prova de 200m. Durante os Jogos de Olímpicos de 1936, era comum antes das competições e durante as premiações que fosse realizada a saudação nazista. Em sua biografia, Owens relatou que esta vitória, além de contrapor ao racismo nazista, também foi importante para combater o racismo no próprio Estados Unidos.

Olimpíadas de 1936

As Olimpíadas de 1936 foram realizadas em Berlim, durante o auge do regime nazista, que havia chegado ao poder em 1933 sob a liderança de Adolf Hitler. Os Jogos foram amplamente utilizados como uma plataforma para promover a ideologia nazista de supremacia racial, com o regime enxergando as Olimpíadas como uma oportunidade para demonstrar a superioridade da “raça ariana” no cenário global.

Hitler e os oficiais nazistas viram nos Jogos uma chance de provar ao mundo as alegações de que os arianos eram física e intelectualmente superiores a outras raças. A propaganda nazista enchia Berlim com imagens e discursos que exaltavam a pureza racial, e as políticas de segregação e opressão contra judeus e outras minorias já estavam em pleno vigor na Alemanha.

Jesse Owens

Jesse Owens era um jovem afro-americano de 22 anos quando chegou a Berlim em 1936, representando os Estados Unidos. Já reconhecido como um dos maiores saltadores e velocistas da época, Owens havia quebrado vários recordes mundiais no atletismo antes dos Jogos, mas ainda enfrentava uma enorme pressão ao competir em um evento de proporções globais, especialmente com a tensão racial que pairava sobre os Jogos.

Ao mesmo tempo, Owens, nascido em 1913 em Oakville, Alabama, cresceu em um país profundamente marcado pela segregação racial. Nos Estados Unidos, as “Leis Jim Crow” mantinham os afro-americanos segregados das áreas públicas e serviços essenciais, enquanto o racismo institucionalizado restringia oportunidades econômicas, esportivas e sociais. Owens, apesar de seu talento atlético inegável, enfrentava discriminação não só em seu país, mas também dentro do próprio sistema esportivo americano.

As Provas de Jesse Owens e Suas Vitórias

Contra todas as expectativas racistas promovidas pelos nazistas, Jesse Owens não apenas competiu, mas dominou as Olimpíadas de 1936. Ele conquistou quatro medalhas de ouro em quatro provas diferentes, em um feito até então sem precedentes:

100 metros rasos: Owens venceu com o tempo de 10,3 segundos, garantindo sua primeira medalha de ouro e desafiando diretamente os atletas arianos.

Salto em distância: Owens ganhou sua segunda medalha de ouro, com um salto de 8,06 metros, estabelecendo um novo recorde olímpico. Um momento importante ocorreu durante essa competição quando Luz Long, atleta alemão e oponente de Owens, demonstrou um espírito esportivo admirável ao oferecer conselhos técnicos para ajudar Owens a melhorar seu desempenho.

200 metros rasos: Owens triunfou mais uma vez, conquistando sua terceira medalha de ouro com um tempo de 20,7 segundos, quebrando o recorde mundial.

Revezamento 4×100 metros: A quarta medalha de ouro veio na prova de revezamento 4×100 metros, onde a equipe dos Estados Unidos, com Owens como parte crucial, quebrou o recorde mundial com um tempo de 39,8 segundos.

Desafios à Ideologia Nazista

As vitórias de Owens não apenas provaram sua excelência como atleta, mas também desafiaram diretamente a propaganda nazista de superioridade racial. A presença de um atleta afro-americano superando competidores arianos no coração do Terceiro Reich foi um golpe nas tentativas de Hitler de usar as Olimpíadas para exaltar a “pureza” da raça ariana.

Embora seja amplamente divulgado que Hitler teria se recusado a apertar a mão de Owens após suas vitórias, o verdadeiro desdém do regime foi menos dramático, mas igualmente evidente. Hitler só cumprimentou alguns atletas alemães durante a competição e, após ser advertido pelo Comitê Olímpico Internacional para cumprimentar todos os vencedores ou nenhum, ele optou por não cumprimentar mais ninguém.

Legado de Jesse Owens

As conquistas de Jesse Owens em Berlim fizeram dele uma lenda instantânea. O atleta foi recebido como herói em todo o mundo e se tornou um símbolo de resistência contra a opressão e o racismo. Apesar disso, ao retornar aos Estados Unidos, Owens ainda enfrentou a dura realidade da segregação racial.

O impacto de Jesse Owens vai muito além do campo esportivo. Jesse se tornou um ícone da luta pelos direitos civis, tanto nos Estados Unidos quanto globalmente. Suas vitórias nas Olimpíadas de 1936 foram um exemplo de que o racismo e a discriminação não podem sufocar a dignidade, a perseverança e o talento. Owens abriu caminho para gerações futuras de atletas negros e outras minorias que enfrentaram discriminação e injustiça.

Referências
Baker, William J. Jesse Owens: An American Life. The Free Press, 1986.
Guttmann, Allen. The Olympics: A History of the Modern Games. University of Illinois Press, 2002.
Large, David Clay. Nazi Games: The Olympics of 1936. W. W. Norton & Company, 2007.
Schaap, Jeremy. Triumph: The Untold Story of Jesse Owens and Hitler’s Olympics. Houghton Mifflin Harcourt, 2007.
Krüger, Arnd, and Wendt, William M. The Nazi Olympics: Sport, Politics, and Appeasement in the 1930s. University of Illinois Press, 2003.
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