Queda da Bastilha – O Início da Revolução Francesa

A Queda da Bastilha, ocorrida em 14 de julho de 1789, é um dos eventos mais emblemáticos da Revolução Francesa e um marco na história mundial. A tomada desta prisão pelos cidadãos de Paris, marcou o início de uma série de transformações políticas e sociais que mudariam para sempre o curso da França e inspirariam movimentos revolucionários em todo o mundo. O evento não foi apenas um ataque a um edifício, mas o início de uma revolução que desafiaria as fundações do Antigo Regime.

Pintura – “A Queda da Bastilha”, visível no centro é a prisão de Bernard René Jourdan (De Launay), Água 37,8 x 50,5 cm”. Jean-Pierre Houël. Bibliothèque Nationale de France, 1789.

O Antigo Regime e a Crise

A França, no final do século XVIII, estava sob o domínio do Antigo Regime, caracterizado por uma monarquia absoluta onde o rei detinha poderes quase ilimitados. A sociedade francesa era rigidamente dividida em três estados: o clero (Primeiro Estado), a nobreza (Segundo Estado) e o Terceiro Estado, composto pela burguesia, camponeses e trabalhadores urbanos, que representava a vasta maioria da população. Essa estrutura social e política gerava grande insatisfação, especialmente entre o Terceiro Estado, que carregava o peso dos impostos e não tinha representação adequada nos processos de decisão.

A crise econômica e financeira exacerbou essas tensões. A dívida pública francesa havia crescido enormemente devido aos gastos com guerras, como a Guerra dos Sete Anos e o apoio à Revolução Americana. Além disso, anos de más colheitas levaram a um aumento dos preços dos alimentos, causando fome e desespero entre as classes mais baixas. A tentativa de Luís XVI de impor novos impostos para resolver a crise financeira encontrou forte resistência, levando à convocação dos Estados Gerais em maio de 1789, um evento que precipitou a Revolução Francesa.

O fim do século XVIII, […], foi uma época de crise para os velhos regimes da Europa e seus sistemas econômicos, e suas últimas décadas foram cheias de agitações políticas, às vezes chegando a ponto da revolta […}. A quantidade de agitações políticas é tão grande que alguns historiadores mais recentes falaram de uma ‘era da revolução democrática’, em que a Revolução Francesa foi apenas um exemplo, embora o mais dramático e de maior alcance e repercussão”. — (Hobsbawm, 1997, pg. 98-99)

Assim como Hobsbawm disse, o pano de fundo para o quadro social que culminou na queda da Bastilha está imerso numa crise econômica e política pela qual a França vinha passando sob o reinado de Luís XVI.

Assembleia Nacional

Quando os Estados Gerais se reuniram, o Terceiro Estado, insatisfeito com a falta de poder real, autoproclamou-se Assembleia Nacional, afirmando representar a verdadeira vontade do povo francês. O ato desafiador foi seguido pela promulgação do Juramento do Jogo da Péla em 20 de junho de 1789, onde os membros da Assembleia juraram não se dispersar até que uma nova constituição fosse estabelecida. Essas ações geraram grande ansiedade na corte e entre a nobreza, que via o poder real sendo desafiado diretamente.

No início de julho, o clima de tensão em Paris aumentou. Havia rumores de que o rei planejava usar a força militar para dissolver a Assembleia Nacional e reprimir qualquer insurreição. Isso levou à formação de milícias populares na cidade, e a busca por armas se intensificou, culminando na decisão de atacar a Bastilha, uma fortaleza que, além de servir como prisão, era vista como um símbolo da tirania real.

A Queda da Bastilha

A Bastilha, construída no século XIV, originalmente como uma fortaleza para proteger Paris durante a Guerra dos Cem Anos, havia se transformado em uma prisão do estado. Embora, no dia da sua queda, a Bastilha abrigasse apenas sete prisioneiros, sua importância simbólica como um símbolo do poder arbitrário da monarquia era enorme. A Bastilha representava o poder opressivo do rei de prender qualquer pessoa sem julgamento, com base apenas em ordens reais (lettres de cachet).

O Ataque

Na manhã de 14 de julho de 1789, uma multidão de parisienses, composta em sua maioria por artesãos, pequenos comerciantes e trabalhadores, se reuniu em frente à Bastilha, exigindo a entrega das armas e da pólvora armazenadas na fortaleza. A tensão aumentou à medida que as negociações com o governador da Bastilha, Bernard-René de Launay, falharam. Finalmente, a multidão, armada com mosquetes e canhões previamente capturados, invadiu a fortaleza após algumas horas de combate.

De Launay, percebendo que a situação era insustentável, rendeu-se. Contudo, ele e outros oficiais capturados foram executados pela multidão enfurecida. A vitória dos insurgentes foi total e a notícia da queda da Bastilha se espalhou rapidamente por Paris e por toda a França.

Consequências Imediatas da Queda da Bastilha

A Queda da Bastilha foi um ponto de inflexão na Revolução Francesa. Embora a prisão em si não tivesse grande importância estratégica, o evento simbolizou o colapso do poder absoluto da monarquia. A Bastilha, como símbolo da opressão real, tornou-se o primeiro grande troféu da Revolução, representando o triunfo do povo sobre a tirania.

A partir desse momento, o rei Luís XVI percebeu que seu poder estava sendo seriamente desafiado. Em um esforço para acalmar a situação, ordenou a retirada as tropas de Paris e aceitou a Assembleia Nacional. Além disso, a Queda da Bastilha inspirou revoltas em outras partes da França, onde camponeses e cidadãos atacaram castelos e mansões da nobreza, dando início ao que ficou conhecido como Grande Medo.

14 de Julho – Dia da Bastilha

A Queda da Bastilha é celebrada anualmente na França como o Dia da Bastilha, festa nacional do país. O dia da Bastilha é um símbolo da luta pela liberdade e igualdade, valores centrais da Revolução Francesa. O 14 de julho continua a ser um dia de reflexão sobre os ideais republicanos e os sacrifícios feitos para alcançar um governo mais justo e representativo.

A Revolução Francesa e a Queda da Bastilha inspiraram uma série de movimentos revolucionários ao redor do mundo. A ideia de que o povo tinha o direito de se levantar contra a opressão e lutar por seus direitos influenciou revoluções e movimentos de independência em todo o século XIX e além, incluindo na América Latina, na Europa e na Ásia.

Referências
Mignet, François. “History of the French Revolution from 1789 to 1814”. Project Gutenberg, 1824.
HOBSBAWM, Eric J.. A era das revoluções, Paz e Terra, 10a edição,1997
Doyle, William. The Oxford History of the French Revolution. Oxford University Press, 1989.
Schama, Simon. Citizens: A Chronicle of the French Revolution. Penguin Books, 1989.
Furet, François. Interpreting the French Revolution. Cambridge University Press, 1981.