Bertillonagem – O Método Que Revolucionou a Criminologia
Alphonse Bertillon foi um criminologista francês que, no final do século XIX, desenvolveu um sistema pioneiro para a identificação de criminosos baseado em medições físicas detalhadas. Este método, conhecido como bertillonagem, revolucionou a catalogação e identificação de suspeitos, sendo amplamente utilizado antes da introdução das impressões digitais. A abordagem de Bertillon marcou o início da criminologia moderna e da ciência forense, introduzindo técnicas sistemáticas e científicas na identificação de indivíduos.
O Surgimento da Bertillonagem: A Reincidência Criminal
No final do século XIX, a polícia de Paris e outras grandes cidades enfrentavam um problema crescente de reincidência criminal. Muitos criminosos usavam nomes falsos ou alteravam suas aparências para evitar a captura e a punição por crimes anteriores. A identificação correta de suspeitos e reincidentes era uma questão crítica, e a falta de um método confiável dificultava o trabalho das autoridades.
O Método Bertillon: Antropometria e Identificação
Em 1879, Bertillon propôs um sistema de identificação baseado em medidas físicas detalhadas do corpo humano, combinadas com fotografias padronizadas (conhecidas como “mugshots“) e anotações descritivas. Este método ficou conhecido como bertillonagem.
Antropometria e Medições Corporais
O método de Bertillon envolvia a medição de várias partes do corpo de uma pessoa, como a altura, o comprimento dos braços, a largura da cabeça, a distância entre os olhos, o comprimento do pé, e o comprimento do dedo médio. Essas medições eram registradas com precisão milimétrica e armazenadas em um arquivo. O princípio básico era que as medidas de certas partes do corpo humano permanecem praticamente inalteradas na idade adulta e que as combinações dessas medidas são únicas para cada indivíduo.
Mugshots e Descrição Detalhada
Além das medições antropométricas, o sistema de Bertillon também incorporava fotografias padronizadas do suspeito, conhecidas como “mugshots”. Essas fotografias consistiam em uma imagem de frente e uma de perfil, tiradas sob condições controladas de iluminação e posição. Bertillon também criou um sistema de descrição verbal detalhada que incluía características como cicatrizes, marcas de nascença, cor dos olhos e peculiaridades físicas, para complementar as medições.
Sistema de Classificação
O método de Bertillon utilizava um sistema de classificação para organizar as fichas dos criminosos. As fichas eram arquivadas com base em categorias de medições específicas, o que permitia uma busca rápida e eficiente para verificar se um suspeito detido tinha sido anteriormente registrado. Isso tornava o processo de identificação de reincidentes muito mais preciso e eficaz do que os métodos anteriores.
O Caso Notável de Alphonse Bertillon
O método de Bertillon foi adotado pela polícia de Paris em 1883 e rapidamente se espalhou para outros países, incluindo Alemanha, Estados Unidos e Reino Unido. Durante as duas décadas seguintes, o sistema tornou-se o método padrão de identificação criminal em todo o mundo. A bertillonagem foi responsável por resolver inúmeros casos de crimes e capturar reincidentes, e muitos o consideraram uma inovação revolucionária na aplicação da lei.
Um dos casos mais notáveis de sucesso do método Bertillon ocorreu em 1897, quando o sistema foi usado para identificar o criminoso francês Joseph Vacher, um assassino em série conhecido como o “Estripador Francês”. A identificação precisa de Vacher, com base nas medições antropométricas, ajudou a vinculá-lo a uma série de crimes em toda a França.
Declínio da Bertillonagem
Embora o método de Bertillon tenha sido inovador para a época, possuía várias limitações. As medições antropométricas exigiam precisão extrema e eram suscetíveis a erros humanos. Além disso, o método não era infalível; indivíduos com medidas corporais semelhantes ainda poderiam ser confundidos. Houve casos em que o sistema falhou, levando a críticas e questionamentos sobre sua confiabilidade. A obra de Bertillon também gerou controvérsias e críticas. Seu envolvimento no Caso Dreyfus, onde ele apresentou evidências de grafologia que mais tarde se revelaram errôneas, lançou uma sombra sobre sua reputação.
No início do século XX, a introdução da identificação por impressões digitais revolucionou ainda mais o campo da criminologia e da ciência forense. As impressões digitais são únicas para cada indivíduo e não mudam ao longo da vida, tornando-as uma ferramenta de identificação muito mais confiável do que a bertillonagem. Em 1903, o famoso “Caso Will West” nos Estados Unidos demonstrou a superioridade das impressões digitais sobre o método de Bertillon, levando à sua substituição gradual.