Zoológicos Humanos: História e Impacto
Os zoológicos humanos, também conhecidos como “exposições etnológicas”, “exposições de povos” ou “human zoos”, foram uma prática controversa e impactante que se tornou popular na Europa e na América do Norte ao longo do século XIX e início do século XX. Essas exposições envolviam a exibição de indivíduos de diferentes culturas e etnias como parte de eventos públicos, frequentemente em condições desumanas.
CAPA – Cartão postal mostrando javanesas Kapong que foram exibidas em jaulas durante a Exposição Universal de Paris de 1889, que marcou a inauguração da Torre Eiffel.
Origem dos Zoológicos Humanos
Os zoológicos humanos surgiram como uma extensão das exposições de curiosidades e das feiras internacionais que ganharam popularidade durante o século XIX. Durante o século XIX, exposições e feiras internacionais, como a Exposição Universal de Paris em 1889, incluíam zonas dedicadas a mostrar “representantes” de várias culturas não ocidentais. Esses eventos foram projetados para educar o público europeu sobre as colônias e suas culturas.
As exposições atraíam grandes multidões, oferecendo uma visão exotizada de povos coloniais. Esses eventos eram frequentemente motivados por uma combinação de curiosidade, preconceito racial e desejo de entretenimento. Os zoos com humanos eram tão populares à época que diversos deles foram construídos ao redor do mundo, em países como Estados Unidos, França e Inglaterra. Na Alemanha, por exemplo, chegou a ser cunhado nestes anos um termo específico para esse tipo de show: Völkerschau.
Exposição Universal de Paris em 1889
A Exposição Universal de Paris de 1889, oficialmente conhecida como “Exposition Universelle de 1889,” foi um evento internacional grandioso realizado para comemorar o centenário da Revolução Francesa e mostrar ao mundo o progresso cultural, industrial e tecnológico da França e de outras nações. Realizada de 6 de maio a 31 de outubro de 1889, essa exposição marcou a terceira vez que Paris sediou uma Exposição Universal, e é mais lembrada por apresentar ao mundo a icônica Torre Eiffel. Além de ser um reflexo do espírito da Belle Époque, também expôs tribos indígenas oriundas de outros lugares do mundo.
Exposição Colonial de Paris (1907)
Uma das mais controversas, apresentava diversos povos indígenas em ambientes simulados, como se fossem animais em um zoológico. A exposição tinha como objetivo demonstrar a suposta superioridade das culturas europeias.
Exposição de Chicago (1893)
Conhecida como a Exposição Mundial de Columbian, apresentava a “Aldeia de Congolês”, onde os habitantes eram exibidos em condições similares às de um zoológico, com a intenção de mostrar a vida “primitiva” dos africanos.
Exposição Mundial de St. Louis (1904)
Incluía uma “Aldeia Filipina” com cerca de 1.100 filipinos, que foram exibidos em uma recriação de uma aldeia nativa. Os participantes viviam em condições precárias, enquanto os visitantes os observavam como atrações exóticas.
Jardim Zoológico da Aclimatação
O Jardim Zoológico da Aclimatação (em francês, “Jardin Zoologique d’Acclimatation“), localizado em Paris, é um parque histórico inaugurado em 6 de outubro de 1860, sob o patrocínio de Napoleão III e da imperatriz Eugénie. Originalmente concebido como um local para aclimatar espécies exóticas de animais ao clima europeu, o jardim ao longo do tempo chegou a condicionar seres humanos, expostos em condições desumanas para o público europeu.
Consequências dos Zoológicos Humanos
Os zoológicos humanos tiveram profundas implicações para os indivíduos exibidos e para a percepção pública das culturas não ocidentais. Os participantes eram frequentemente tratados como objetos de curiosidade em vez de seres humanos com dignidade. Essa desumanização perpetuava estereótipos raciais e justificava atitudes colonialistas e imperialistas.
Muitos dos indivíduos exibidos sofreram traumas significativos devido à exposição pública, às condições precárias e ao tratamento desrespeitoso. A prática teve efeitos duradouros sobre as comunidades e sobre a forma como os participantes foram percebidos por suas próprias culturas e pelo mundo exterior.
Com o tempo, a prática dos zoológicos humanos foi amplamente condenada e considerada uma violação dos direitos humanos. A conscientização sobre os abusos e a desumanização levou a um maior reconhecimento dos danos causados e ao fortalecimento dos direitos e da dignidade das pessoas exibidas. A última dessas exposições ocorreu em 1958, em Bruxelas, na Bélgica, onde o que era considerada pelos expositores como uma “autêntica família de um vilarejo do Congo” foi exposta em uma jaula.