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Waimiri-Atroari – O Massacre dos Indígenas na Amazônia

Waimiri-Atroari – O Massacre dos Indígenas na Amazônia

A construção da BR-174, uma estrada que liga Manaus, no Amazonas, a Boa Vista, em Roraima, foi um dos projetos mais ambiciosos do governo brasileiro durante o regime militar. Contudo, essa obra, que pretendia integrar a região amazônica ao restante do país, resultou em um dos episódios mais trágicos na história dos povos indígenas brasileiros: o massacre e deslocamento dos Waimiri-Atroari.

Waimiri-Atroari

A obra da BR-174, que pretendia integrar a região amazônica ao restante do país, resultou em um dos episódios mais trágicos na história dos povos indígenas brasileiros: o massacre e deslocamento dos Waimiri-Atroari.

Maloca incendiada devido à ataques contra a tribo indígena. A obra da BR-174, que pretendia integrar a região amazônica ao restante do país, resultou em um dos episódios mais trágicos na história dos povos indígenas brasileiros: o massacre e deslocamento dos Waimiri-Atroari. Foto: Edílson Martins.

Os Waimiri-Atroari são um grupo indígena que habita as regiões do norte do Brasil, principalmente nos estados do Amazonas e Roraima. Eles falam uma língua da família Karib e possuem uma rica cultura e tradição que resistiram a várias tentativas de colonização ao longo do século XX. Os Waimiri-Atroari vivem principalmente em uma área protegida que abrange partes dos estados do Amazonas e Roraima. Historicamente, ocupavam uma área ainda maior, mas enfrentaram uma série de desafios que reduziram seu território e sua população.

Construção da BR-174 – A Política de Integração Nacional

Maloca incendiada devido à ataques contra a tribo indígena. A obra da BR-174, que pretendia integrar a região amazônica ao restante do país, resultou em um dos episódios mais trágicos na história dos povos indígenas brasileiros: o massacre e deslocamento dos Waimiri-Atroari.

Maloca incendiada devido à ataques contra a tribo indígena. Foto: Edílson Martins.

Durante a década de 1970, o governo militar brasileiro lançou diversos projetos de infraestrutura com o objetivo de integrar as regiões mais remotas do país, especialmente a Amazônia. A BR-174 foi uma dessas iniciativas, projetada para facilitar o acesso à região norte e promover a colonização e exploração econômica, incluindo a extração de madeira e minerais. Contudo, essa expansão ignorou completamente os direitos e a presença das populações indígenas que habitavam essas áreas, levando a confrontos violentos e à violação dos direitos humanos.

A construção da BR-174 começou em 1968, e desde o início, a presença da estrada trouxe impactos negativos para os Waimiri-Atroari. Além da invasão de suas terras por colonos e trabalhadores, o contato com pessoas de fora trouxe doenças para as quais os indígenas não tinham imunidade, resultando em altas taxas de mortalidade. O processo de construção da estrada cortou o território tradicional dos Waimiri-Atroari ao meio, interferindo em suas rotas de caça e pesca, além de destruir áreas sagradas e recursos naturais essenciais para a sobrevivência da comunidade.

Massacre e Resistência dos Waimiri-Atroari

Os Waimiri-Atroari, como outros povos indígenas, resistiram à invasão de suas terras. Desde o início da construção, conflitos entre indígenas e trabalhadores da estrada foram registrados. A resistência foi brutalmente reprimida pelas forças de segurança e pelo Exército brasileiro, que viam a resistência indígena como um obstáculo ao progresso e à integração nacional.

Entre 1972 e 1975, a repressão aos Waimiri-Atroari atingiu seu ápice. Documentos e relatos apontam que o Exército brasileiro conduziu operações militares contra as aldeias Waimiri-Atroari, resultando em massacres e desaparecimentos forçados. Estima-se que milhares de indígenas tenham morrido devido à violência direta, doenças e desnutrição causadas pela destruição de suas fontes de alimentação e pelo deslocamento forçado. O censo populacional da época indicou uma redução dramática na população Waimiri-Atroari, que caiu de cerca de 3.000 e 4.000 indivíduos para menos de 400 em apenas alguns anos.

Luta por Justiça

Panfleto lançado sobre o território indígena Waimiri-Atroari, durante a operação Atroaris

Panfleto lançado sobre o território indígena Waimiri-Atroari, durante a operação Atroaris

Nas décadas que se seguiram, a luta por justiça e reconhecimento dos crimes cometidos contra os Waimiri-Atroari continuou. A Comissão Nacional da Verdade, em 2014, incluiu a repressão aos Waimiri-Atroari como um dos crimes cometidos pelo Estado brasileiro durante o regime militar. Documentos e testemunhos reunidos pela comissão trouxeram à tona a brutalidade das operações militares e o impacto devastador da construção da BR-174 na população indígena.

Atualmente, os sobreviventes lutam para buscar justiça e reparações pelos parentes mortos e para que sua história jamais seja esquecida. Além dos Waimiri, os Guaranis também sofreram massacres por conta da construção da Hidrelétrica de Itaipu e também buscam reparações. Abaixo, o texto transcrito de um panfleto lançado sobre o território indígena, durante a operação Atroaris:

“Guerrilheiro, lê com atenção esta “mensagem”
Guarda este panfleto com cuidado
Ele é o teu passaporte para a vida
Estás cercado
Teus momentos estão contados
Vê na operação esboçada que teu fim
Está próximo!
Teus companheiros estão morrendo
Tu mesmo estás ferido
Os soldados brasileiros – teus irmãos
Estão cada vez mais próximos
A aviação te bombardeia sem cessar
Olha a bandeira de teu país
És brasileiro – lembra-te disto
Reflete, pensa bem – o verdadeiro inimigo
Pode estar a teu lado: repudia-o, aprisiona-o, MATA-O
Irmão – rende-te
Teu passaporte: esta mensagem
Tua recompensa: a vida
Teu futuro: perdão.

– Do Comandante do Teatro de Operações”

Referências
1º Relatório do Comitê Estadual da Verdade: O genocídio do povo WAIMIRI-ATROARI“. Comissão da Verdade do Amazonas.
Livro sobre a ditadura militar e o genocídio dos Waimiri–Atroari foi lançado em Roraima“. Instituto Humanitas Unisinos.
Cunha, Manuela Carneiro da. Histórias dos Índios no Brasil. Companhia das Letras, 1992.
Almeida, Alfredo Wagner Berno de. Os Índios e a Civilização: A Integração das Populações Indígenas no Brasil Moderno. Editora FGV, 2008.
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