
Romênia na Primeira Guerra Mundial: A Campanha Esquecida

Tropas romenas marchando para o front em 1917. Após o desastre de 1916, quando a Romênia perdeu dois terços de seu território, o exército foi reorganizado com ajuda de oficiais franceses. Novas táticas foram implementadas e o moral melhorou. As vitórias defensivas de Mărăști, Mărășești e Oituz em 1917 mostraram que o país ainda podia lutar. Fonte: Muzeul Militar National Regele Ferdinand I
Em 27 de agosto de 1916, a Romênia tomou uma decisão que mudaria seu destino. Após dois anos observando a Europa se despedaçar, o pequeno país do leste europeu finalmente escolheu um lado. Declarou guerra ao Império Austro-Húngaro. Juntou-se aos Aliados. A promessa era tentadora: territórios ricos onde romenos viviam sob domínio estrangeiro. Mas o preço seria alto. Muito alto.
A Difícil Escolha da Neutralidade
Quando a Primeira Guerra Mundial começou em 1914, a Romênia enfrentava um dilema. A monarquia romena pertencia à dinastia Hohenzollern. Eram alemães de origem. Simpatizavam com as Potências Centrais. Porém, a elite política pensava diferente. O povo também. Queriam se juntar à Entente.
A razão era simples. Milhões de romenos viviam fora das fronteiras nacionais. A Transilvânia, região rica em recursos naturais, pertencia à Áustria-Hungria. Lá, a maioria da população era romena. Bessarábia estava sob controle russo. Também tinha maioria romena. Juntar-se aos Aliados significava uma chance de unir todos os romenos.
Mas havia medo. A Romênia ainda era jovem como nação independente. Conquistara a independência em 1878, após a Guerra Russo-Turca. Não tinha certeza se estava pronta para enfrentar uma grande potência. Assim, optou pela neutralidade. Esperaria o momento certo.
O Ultimato Que Mudou Tudo
Dois anos se passaram. Em agosto de 1916, a Entente perdeu a paciência. Enviou um ultimato à Romênia. Era agora ou nunca. O país precisava decidir. Sob pressão, o governo romeno cedeu. Concordou em entrar na guerra ao lado dos Aliados.
A decisão não veio no melhor momento. A situação nas frentes de batalha não era favorável. Ainda assim, a Romênia assinou o Tratado de Bucareste. As promessas eram irresistíveis. Ganharia Banat, Bucovina, Crișana, Maramureș e Transilvânia. Todos territórios com maioria romena. Parecia um bom negócio.
O Plano Ambicioso

Infantaria romena atravessando o rio Dambovita sob pontes construídas pelo 2° Batalhão Pionieri. Novembro de 1916.
O plano militar romeno tinha um nome: Hipótese Z. A estratégia era dupla. Primeiro, atacar a Áustria-Hungria na Transilvânia. Segundo, defender o sul contra a Bulgária. Parecia simples no papel. Na prática, seria um desastre.
Inicialmente, tudo correu bem. As tropas romenas avançaram pela Transilvânia. Capturaram território. A população romena local os recebeu como libertadores. Durante algumas semanas, a vitória parecia possível. Mas a Alemanha não ficaria parada.
O Contra-Ataque Devastador
A Alemanha enviou reforços. Divisões inteiras cruzaram a fronteira. A Bulgária também intensificou seus ataques no sul. De repente, a Romênia enfrentava inimigos em múltiplas frentes. As forças romenas, mesmo com ajuda russa, não conseguiam resistir.
O general Erich von Falkenhayn liderava as forças alemãs. Era um comandante experiente. Conhecia bem a guerra de movimento. Suas tropas avançaram rapidamente. Empurraram os romenos para trás. Recuperaram a Transilvânia. Depois, invadiram o próprio território romeno.
O Desastre de 1916
O fim de 1916 foi catastrófico para a Romênia. O país perdeu dois terços de seu território. Cidades importantes caíram. Bucareste, a capital, foi ocupada. Apenas a Moldávia Ocidental permaneceu sob controle romeno. Mesmo assim, só com ajuda russa.
Centenas de milhares de soldados morreram. Civis fugiram para o leste. O inverno chegou. Frio, fome e doenças se espalharam. A Romênia estava à beira do colapso. Muitos acreditavam que o país seria completamente derrotado. Mas os romenos não desistiram.
A Reorganização Desesperada

O exército romeno durante a campanha de 1916. Inicialmente, as tropas romenas avançaram pela Transilvânia e foram recebidas como libertadoras pela população romena local. Mas quando a Alemanha enviou reforços sob comando do general Erich von Falkenhayn, a situação mudou drasticamente. O contra-ataque foi devastador. Fonte: Muzeul Militar National
Durante o inverno de 1916-1917, algo notável aconteceu. A Romênia reorganizou suas forças. Oficiais franceses ajudaram no treinamento. Novas táticas foram implementadas. O moral das tropas melhorou. Preparavam-se para resistir.
A Moldávia se tornou o último bastião. Ali, o exército romeno se entrincheirou. Construíram fortificações. Estocaram suprimentos. Quando a primavera chegou, estavam prontos. As Potências Centrais atacariam novamente. Desta vez, encontrariam resistência feroz.
As Vitórias de 1917

Soldados romenos brincando de “pular-cabra”. 1917.
Em julho de 1917, a Alemanha e a Áustria-Hungria lançaram uma grande ofensiva. Queriam eliminar a Romênia de vez. Atacaram em três pontos: Mărăști, Mărășești e Oituz. Esperavam vitórias rápidas. Não conseguiram.
Na Batalha de Mărăști, os romenos contra-atacaram. Empurraram os alemães para trás. Em Mărășești, resistiram por semanas. Ondas de ataques inimigos foram repelidas. Em Oituz, defenderam posições montanhosas. As Potências Centrais sofreram pesadas baixas.
Essas vitórias foram cruciais. Mostraram que a Romênia ainda podia lutar. O exército reorganizado funcionava. Porém, um novo problema surgia. A Rússia estava em crise.
A Revolução Que Mudou Tudo
Em outubro de 1917, a Revolução Bolchevique estourou na Rússia. O novo governo queria paz. Começou negociações com as Potências Centrais. Para a Romênia, isso era um desastre. Seu principal aliado estava abandonando a guerra.
Sem a Rússia, a Romênia ficou isolada. Estava cercada por inimigos. A Alemanha ao norte e oeste. A Áustria-Hungria ao noroeste. A Bulgária ao sul. Não havia como continuar lutando. A realidade era cruel.
O Tratado Humilhante

Canhão de 53mm do Exército da Romênia em posição. Dealul Porcului (Colina do Porco). Março de 1917.
Em maio de 1918, a Romênia assinou o Tratado de Bucareste. Mas este não era o tratado de promessas. Era um tratado de rendição. As condições eram duras. Muito duras.
A Romênia perderia toda a Dobruja para a Bulgária. Cederia os passes dos Cárpatos à Áustria-Hungria. Pior ainda, arrendaria todas as reservas de petróleo para a Alemanha. Por 99 anos. O país seria economicamente dominado.
O parlamento assinou o tratado. Não havia escolha. Mas o Rei Ferdinand I recusou-se a assinar. Mantinha esperança. Acreditava que os Aliados venceriam no oeste. Sua aposta era arriscada. Mas se mostraria correta.
A Reviravolta Final
No outono de 1918, tudo mudou. Os Aliados avançavam na Frente Ocidental. A Frente Macedônia colapsou. A Bulgária pediu armistício. A Áustria-Hungria se desintegrava. A Alemanha estava exausta.
Em outubro de 1918, a Romênia renunciou ao Tratado de Bucareste. No dia 10 de novembro, reentrou na guerra. Suas tropas avançaram na Transilvânia. No dia seguinte, a Alemanha assinou o armistício. A guerra terminava. A Romênia estava do lado vencedor.
O Nascimento da Grande Romênia
A vitória final trouxe recompensas. A Romênia anexou a Bessarábia, que havia declarado independência da Rússia. Ganhou a Bucovina. Conquistou a Transilvânia. Todos os territórios prometidos em 1916 agora eram romenos.
Nascia a România Mare, a Grande Romênia. Era a maior extensão territorial da história do país. Unia essencialmente todos os territórios com maioria étnica romena. O sonho de unificação se realizava. Duraria de 1919 a 1940.
O Preço da Vitória

Oficial tocando violino em seu abrigo. 1917.
Mas a vitória teve um custo terrível. Estima-se que 748 mil romenos morreram. Entre civis e militares. Cidades foram destruídas. A economia estava arruinada. Famílias perderam entes queridos. Gerações inteiras foram dizimadas.
A campanha romena é frequentemente esquecida. Ofuscada pelas grandes batalhas do oeste. Verdun, Somme, Passchendaele. Mas para a Romênia, foi tão importante quanto. Definiu as fronteiras do país. Moldou sua identidade nacional. Deixou cicatrizes profundas.
Lições de Uma Campanha Esquecida
A história da Romênia na Primeira Guerra Mundial ensina lições valiosas. Mostra os perigos de entrar em guerras sem preparo adequado. Demonstra como a geopolítica pode mudar rapidamente. Revela que a persistência pode transformar derrotas em vitórias.
Também ilustra o custo humano da guerra. Centenas de milhares morreram por fronteiras em mapas. Famílias foram separadas. Comunidades foram destruídas. Tudo por ambições territoriais e promessas políticas.
O Legado Duradouro
Hoje, a Grande Romênia não existe mais. A Segunda Guerra Mundial mudou novamente as fronteiras. A Bessarábia foi perdida. Parte da Bucovina também. Mas a Transilvânia permaneceu romena. A unificação parcial sobreviveu.
Os soldados romenos de 1916-1918 são lembrados como heróis. Lutaram contra adversidades impossíveis. Sofreram derrotas humilhantes. Mas não desistiram. Suas vitórias defensivas de 1917 salvaram o país. Sua perseverança permitiu que a Romênia estivesse do lado vencedor.
A campanha romena merece ser lembrada. Não apenas como uma nota de rodapé na história da Primeira Guerra Mundial. Mas como uma história de coragem, sofrimento e determinação. Uma história que moldou uma nação. E que ainda ecoa um século depois.