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Revolta da Chibata – João Cândido Lidera a Rebelião

Revolta da Chibata – João Cândido Lidera a Rebelião

A Revolta da Chibata, ocorrida em novembro de 1910, é um dos episódios mais marcantes da história militar do Brasil. Liderada por marinheiros da Marinha Brasileira, com destaque para a liderança de João Candido Felisberto, a revolta foi uma resposta direta às condições desumanas e aos castigos corporais sofridos pelos marinheiros, especialmente os de origem afro-brasileira. A Revolta da Chibata não só destacou a resistência contra a opressão, mas também os maus-tratos dentro das Forças Armadas.

A Marinha do Brasil no Início do Século XX

No início do século XX, a Marinha Brasileira era composta em grande parte por marinheiros afro-brasileiros, muitos dos quais descendentes diretos de escravos ou ex-escravos. A Marinha era uma das poucas instituições que ofereciam oportunidades de trabalho para homens negros, mas as condições de serviço eram degradantes. A disciplina era mantida através de castigos físicos, sendo a chibata (um tipo de chicote) a punição mais comum. Esses castigos eram aplicados por infrações menores e muitas vezes sem qualquer tipo de julgamento justo, o que gerava um clima de medo e revolta entre os marinheiros.

Um dia após a Proclamação da República (1889) ficara estabelecido que castigos físicos deveriam ser abolidos da Marinha do Brasil. Contudo, a decisão foi suspensa um ano depois através de um decreto publicado no Diário Oficial, em que estava previsto:

“Para as faltas leves, prisão a ferro na solitária, por um a cinco dias, a pão e água; faltas leves repetidas, idem, por seis dias, no mínimo; faltas graves, vinte e cinco chibatadas, no mínimo.”

A Revolta da Chibata

O retorno a práticas degradantes como castigo incomodou os marinheiros, em sua maioria negros e mulatos, pois remontava à época da escravidão, abolida em 1888. As faltas mais graves eram punidas com até 25 chibatadas e, ainda por cima, existia o uso do “bolo”, prática abusiva que consistia em bater com a palmatória nas mãos estendidas dos marujos, dentre outros castigos corporais.

Os abusos tornaram-se cada vez mais frequentes, levando João Cândido Felisberto, filho dos ex-escravos João Felisberto e Inácia Cândido Felisberto, conhecido como “Almirante Negro”, a criar um Comitê para a organização de uma revolta contra o código disciplinar. Por dois anos a revolta foi organizada, até que em 1910, após o marinheiro Marcelino Rodrigues ter sido castigado com 250 chibatadas, a Revolta da Chibata estourou em 22 de novembro.

O Início da Rebelião

Na noite de 22 de novembro de 1910, os marinheiros tomaram o controle de quatro dos maiores navios de guerra da frota brasileira: Bahia, Deodoro, Minas Geraes e São Paulo. Sob a liderança do marinheiro João Cândido Felisberto, conhecido como o “Almirante Negro”, os revoltosos ameaçaram bombardear a cidade do Rio de Janeiro, então capital do Brasil, caso suas exigências não fossem atendidas. As demandas incluíam o fim dos castigos corporais, melhores salários e condições de trabalho mais justas.

Os termos da Revolta da Chibata, como ficou conhecida, eram claros: ou o governo abolia as práticas abusivas e degradantes, ou os encouraçados, atracados na Baía de Guanabara, bombardeariam o Rio de Janeiro, à época capital federal:

“Não queremos a volta da chibata. Isso pedimos ao presidente da República e ao ministro da Marinha. Queremos a resposta já e já. Caso não a tenhamos, bombardearemos as cidades e os navios que não se revoltarem.” (Carta de João Cândido, mas escrita por outro marinheiro)

O Fim da Revolta da Chibata

Após 5 dias de pressão, o presidente Marechal Hermes da Fonseca aceitou o ultimato dos revoltosos, abolindo os castigos físicos e anistiando os revoltosos que se entregassem. Contudo, dois dias após a entrega das armas, foi emitido um novo decreto declarando que seriam expulsos da Marinha elementos inconvenientes à disciplina. No dia 2 de dezembro, 16 marinheiros sofreram tal punição.

Com as promessas do governo, os marinheiros depuseram as armas e entregaram os navios. Contudo, apesar das promessas, a repressão logo se seguiu. João Cândido Felisberto, que havia sido o principal líder, foi preso e enviado para o hospital da ilha das Cobras, onde foi colocado em uma cela insalubre. Muitos dos marinheiros revoltosos foram enviados para trabalhos forçados na Amazônia, e o governo voltou atrás em várias de suas promessas, mantendo o controle rigoroso sobre a Marinha.

Referências:
Foto: Augusto Malta, Rio de Janeiro, 1910, Acervo Fundação Biblioteca Nacional.
MAESTRI, Mário. 1910: a revolta dos Marinheiros. Uma saga negra. 3 ed. São Paulo: Global, 1982
KOSSOY, Boris. Um olhar sobre o Brasil: A fotografia na construção da imagem da nação (1833 – 2003). 1° edição. São Paulo: Fundación Mapfre e Editora Objetiva, 2012. p. 18.
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