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Desenho da Bomba Atômica: Arte Como Terapia Pós Hiroshima

Desenho da Bomba Atômica: Arte Como Terapia Pós Hiroshima

O impactante desenho de Ogawa Sagami, sobrevivente da bomba atômica de Hiroshima. A obra retrata corpos cozidos dentro de um tanque de água e outros carbonizados ao redor, um testemunho visual do horror a 260 metros do hipocentro. Fonte: Hiroshima Peace Memorial Museum.

Em 6 de agosto de 1945, o mundo testemunhou uma força destrutiva sem precedentes. Contudo, para os sobreviventes de Hiroshima, o horror não se limitou ao clarão da explosão. Portanto, décadas depois, muitos encontraram na arte uma linguagem para o indizível. Assim, o desenho de Ogawa Sagami, um sobrevivente que estava a meros 260 metros do hipocentro, emergiu como um dos mais viscerais testemunhos da tragédia. Consequentemente, esta obra, parte do projeto “Children of the Atomic Bomb”, revela uma cena de horror absoluto, servindo como um poderoso e eterno lembrete das consequências humanas da guerra nuclear.

O Projeto “Children of the Atomic Bomb”

Outro desenho de um hibakusha, mostrando sobreviventes buscando alívio no rio após a explosão. A arte foi uma ferramenta crucial para documentar as memórias e processar o trauma. Fonte: Mainichi Shimbun.

Outro desenho de um hibakusha, mostrando sobreviventes buscando alívio no rio após a explosão. A arte foi uma ferramenta crucial para documentar as memórias e processar o trauma. Fonte: Mainichi Shimbun.

Uma Iniciativa de Cura e Memória

O projeto “Children of the Atomic Bomb” nasceu da necessidade de compreender e tratar as profundas cicatrizes deixadas pela bomba. Além disso, foi idealizado por pediatras e psicanalistas da Universidade da Califórnia, Los Angeles (UCLA), sob a liderança do Dr. James N. Yamazaki. A iniciativa, portanto, possuía um duplo objetivo: oferecer tratamento médico e psicológico às vítimas, conhecidas como hibakusha, e documentar suas experiências através de desenhos. Consequentemente, a arte tornou-se uma ferramenta terapêutica fundamental, permitindo que os sobreviventes processassem traumas que palavras não podiam alcançar. Os desenhos, coletados a partir de 1974, abriram uma nova janela para a compreensão do sofrimento em Hiroshima e Nagasaki.

A Visão de Ogawa Sagami

Ogawa Sagami, nascido em 1917, tinha 28 anos no dia da explosão. Assim, sua proximidade com o ponto zero torna seu testemunho uma rara e arrepiante perspectiva do epicentro da destruição. Portanto, seu desenho, identificado como GE15-44 no acervo do Hiroshima Peace Memorial Museum, retrata uma cena que desafia a compreensão: um tanque de água repleto de corpos. Consequentemente, a imagem não é apenas uma representação artística; é um registro brutalmente honesto do que Sagami testemunhou em meio ao caos e à aniquilação, um fragmento de memória congelado no tempo.

A Análise Detalhada do Desenho

Representação artística da destruição e dos feridos em Hiroshima, feita por um sobrevivente. Os desenhos dos hibakusha são um legado poderoso que clama pela paz mundial. Fonte: Union of Concerned Scientists.

Representação artística da destruição e dos feridos em Hiroshima, feita por um sobrevivente. Os desenhos dos hibakusha são um legado poderoso que clama pela paz mundial. Fonte: Union of Concerned Scientists.

Corpos Cozidos e Carbonizados: A Física do Horror

O desenho de Sagami revela uma distinção macabra e cientificamente precisa entre os corpos. Além disso, aqueles dentro do tanque de água são retratados em um vermelho vivo, inchados. A explicação para este fenômeno é terrível: a intensa radiação térmica da explosão aqueceu a água do tanque a ponto de ebulição quase instantânea, cozinhando os corpos que buscaram refúgio ali.

Em contraste, os corpos ao redor do tanque estão completamente carbonizados, encolhidos e escuros. Portanto, estes indivíduos foram expostos diretamente à onda de calor, que ultrapassou milhares de graus Celsius. Assim, essa diferenciação grotesca ilustra a física da explosão de uma forma visceral e profundamente humana.

Um Testemunho Silencioso que Grita

A obra de Sagami é mais do que um simples desenho; é um documento histórico de valor inestimável. Portanto, ela captura um momento de sofrimento extremo que a fotografia não registrou e que a linguagem falha em descrever. Consequentemente, a aparente simplicidade do traço, quando combinada com a brutalidade da cena, cria um impacto emocional que transcende o tempo e a cultura. Além disso, o desenho serve como uma ponte indelével entre o evento histórico e as gerações futuras, um esforço para garantir que o horror de Hiroshima jamais seja esquecido ou minimizado.

O Legado dos Desenhos dos Hibakusha

A visão do cogumelo atômico sobre Hiroshima, desenhada por um sobrevivente. A imagem, recorrente na arte dos hibakusha, simboliza o início do terror e da destruição em massa. Fonte: CNN.

A visão do cogumelo atômico sobre Hiroshima, desenhada por um sobrevivente. A imagem, recorrente na arte dos hibakusha, simboliza o início do terror e da destruição em massa. Fonte: CNN.

Arte Como Terapia e Denúncia Contra o Esquecimento

Os desenhos dos hibakusha, como o de Ogawa Sagami, desempenham um papel crucial na preservação da memória e na incansável promoção da paz. Portanto, eles funcionam como uma forma de terapia catártica para os sobreviventes, mas também como uma poderosa ferramenta de denúncia contra a proliferação de armas nucleares. Assim, ao transformar suas memórias traumáticas em arte, os hibakusha oferecem ao mundo um vislumbre do inferno que viveram, um ato de coragem e resistência. Consequentemente, suas obras são um apelo direto à consciência global, um chamado veemente para que tal tragédia nunca, jamais, se repita.

A Missão de Vida do Dr. James N. Yamazaki

Dr. James N. Yamazaki, o fundador do projeto, foi mais do que um médico; ele foi uma testemunha. Em 1949, liderou a equipe médica americana em Nagasaki e dedicou o resto de sua vida a estudar os efeitos da radiação e a lutar pelo desarmamento nuclear. Além disso, ele acreditava firmemente que a tragédia de Hiroshima e Nagasaki não pertencia apenas ao Japão, mas a toda a humanidade.

A mensagem do Dr, Yamazaki era clara e urgente: é responsabilidade de todas as nações prevenir outro desastre nuclear, pela segurança e pelo bem-estar de todas as crianças do mundo. Consequentemente, os desenhos dos sobreviventes são a personificação viva dessa mensagem, um testamento duradouro da frágil necessidade de paz.

Referências
UCLA Asian American Studies Center. (n.d.). Children of the Atomic Bomb. Recuperado de UCLA.
Hiroshima Peace Memorial Museum. (n.d.). Drawings by Survivors. Recuperado de Hiroshima Peace Memorial Museum.
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