Em um mar de braços estendidos na saudação nazista, um homem se destaca. De braços cruzados e expressão desafiadora, ele se recusa a participar do fervor coletivo. Essa imagem, capturada em 13 de junho de 1936, no estaleiro Blohm+Voss em Hamburgo, Alemanha, tornou-se um símbolo poderoso de resistência individual contra a tirania. O homem na foto é amplamente identificado como August Landmesser, um trabalhador cujo ato de desafio silencioso contava uma história de amor proibido, perseguição e, finalmente, tragédia. Sua história pessoal oferece uma janela para a brutalidade do regime nazista e a coragem daqueles que ousaram desafiá-lo, mesmo que de forma sutil.
A Adesão de Landmesser ao Nazismo e o Amor Proibido
Nascido em 1910, August Landmesser, como muitos alemães da época, viu no Partido Nazista uma oportunidade de ascensão social e profissional. Em 1931, ele se filiou ao partido na esperança de conseguir um emprego em meio à crise econômica que assolava o país. No entanto, sua vida tomaria um rumo inesperado quando, em 1934, ele conheceu e se apaixonou por Irma Eckler, uma mulher judia. O relacionamento dos dois floresceu, e em 1935 eles ficaram noivos, um ato que selaria o destino de Landmesser dentro do partido. Por se relacionar com uma judia, ele foi expulso do Partido Nazista, um prelúdio da perseguição que estava por vir.
As Leis de Nuremberg e a Perseguição ao Casal

O casal tentou oficializar sua união em Hamburgo, mas a promulgação das Leis de Nuremberg, em setembro de 1935, tornou o casamento entre arianos e judeus ilegal. Essas leis raciais institucionalizaram a perseguição aos judeus e a todos que se associavam a eles. Mesmo com o nascimento de sua primeira filha, Ingrid, em outubro de 1935, o casal não pôde viver em paz. A famosa fotografia de Landmesser de braços cruzados foi tirada menos de um ano depois, um ato que muitos interpretam como um protesto silencioso contra o regime que o havia marginalizado e que proibia seu amor por Irma.
A Fuga Frustrada e a Prisão de August Landmesser
Em 1937, a situação se tornou insustentável. August Landmesser, Irma e a pequena Ingrid tentaram fugir para a Dinamarca, mas foram capturados na fronteira. Landmesser foi preso e acusado de “desonrar a raça” (Rassenschande), um crime sob as Leis de Nuremberg. Em seu julgamento, ele argumentou que não sabia que Irma era totalmente judia, e foi absolvido em maio de 1938 por falta de provas, mas com um aviso severo: qualquer reincidência resultaria em uma longa pena de prisão. Ignorando a ameaça, o casal continuou seu relacionamento publicamente, um ato de desafio que teria consequências devastadoras.
A Condenação e o Destino de Irma Eckler
Em julho de 1938, August Landmesser foi preso novamente e, desta vez, condenado a dois anos e meio de trabalhos forçados no campo de concentração de Börgermoor. Irma Eckler, grávida de sua segunda filha, foi presa pela Gestapo e levada para a prisão de Fuhlsbüttel, onde deu à luz a Irene. De lá, ela foi transferida para vários campos de concentração, incluindo Oranienburg, Lichtenburg e, finalmente, Ravensbrück. Acredita-se que ela tenha sido uma das 14.000 pessoas assassinadas no Centro de Eutanásia de Bernburg em 1942. Seu destino reflete a brutalidade sistemática do Holocausto.
O Fim Trágico de Landmesser e o Destino das Filhas
August Landmesser foi libertado da prisão em 1941, mas sua liberdade foi curta. Em fevereiro de 1944, ele foi convocado para um batalhão penal e enviado para lutar na Croácia, onde foi declarado morto em combate em outubro de 1944. Suas filhas, Ingrid e Irene, foram separadas. Ingrid foi criada pela avó materna, enquanto Irene passou por um orfanato antes de ser adotada. A história da família, marcada pela perseguição e pela perda, foi posteriormente documentada por Irene em um livro, garantindo que o sacrifício de seus pais não fosse esquecido.
O Legado da Fotografia e a Memória de Landmesser
A fotografia que imortalizou o gesto de August Landmesser só veio a público em 1991, quando foi publicada pelo jornal alemão Die Zeit. Desde então, a imagem tem circulado o mundo como um poderoso símbolo de resistência individual. Embora a identidade de Landmesser como o homem na foto tenha sido contestada por outra família, a história de seu amor proibido e sua recusa em se conformar com o regime nazista ressoa universalmente.
O reconhecimento póstumo de seu casamento com Irma Eckler e a publicação da história de sua família por sua filha Irene ajudaram a solidificar seu lugar na história como um homem comum que, em um momento crucial, escolheu a dignidade em vez da conformidade.
Referências
- Wikipedia. (s.d.). August Landmesser. Recuperado de https://en.wikipedia.org/wiki/August_Landmesser.
- Rare Historical Photos. (2025). August Landmesser: The Lone Man Refusing to Do the Nazi Salute, 1936. Recuperado de https://rarehistoricalphotos.com/august-landmesser-1936/.
- Bill of Rights Institute. (s.d.). August Landmesser Primary Source Handout. Recuperado de https://billofrightsinstitute.org/activities/august-landmesser-primary-source-analysis.
- Mashable. (s.d.). The lone German worker who refused to salute Hitler. Recuperado de https://mashable.com/feature/august-landmesser.
- Good.is. (2024). The courageous story of the German who refused to give Hitler the Nazi salute. Recuperado de https://www.good.is/the-courageous-story-of-the-german-who-refused-to-give-hitler-the-nazi-salute.
