Serra Pelada: O Maior Garimpo a Céu Aberto do Mundo

No final da década de 1970, no coração da Amazônia brasileira, uma descoberta acidental deu início a uma das maiores corridas do ouro da história moderna. Serra Pelada, uma colina no sudeste do Pará, tornou-se o epicentro de um frenesi que atraiu dezenas de milhares de homens em busca de fortuna, transformando a paisagem e a vida de todos que ali pisaram. Este artigo explora a ascensão e queda do maior garimpo a céu aberto do mundo, documentado pelas lentes icônicas de Sebastião Salgado.

A Descoberta e a Corrida do Ouro

O Início da Febre

A história de Serra Pelada começou em dezembro de 1979, quando um vaqueiro encontrou uma pepita de ouro na Fazenda Três Barras. A notícia se espalhou como fogo, e em poucos meses, milhares de homens de todo o Brasil convergiram para a região, armados com pás, picaretas e o sonho de enriquecer. O garimpo cresceu de forma desordenada, com os primeiros a chegar demarcando seus “barrancos” e se tornando “capitalistas”, enquanto a grande maioria trabalhava em condições análogas à escravidão.

O Formigueiro Humano: A Vida no Garimpo

A Escala da Exploração

No auge, em 1983, Serra Pelada abrigava cerca de 100.000 pessoas, transformando a colina em um verdadeiro “formigueiro humano”. Homens cobertos de lama subiam e desciam por escadas de madeira precárias, as “adeus-mamãe”, carregando sacos de terra de até 35 kg nas costas. Eram os “formigas”, a força de trabalho que movia a montanha em busca do metal precioso.

O Trabalho dos “Formigas”

A imagem do “formiga” subindo as escadas com um saco de terra nas costas tornou-se o símbolo do trabalho exaustivo em Serra Pelada. Cada saco representava uma pequena chance de encontrar ouro, e essa esperança movia milhares de homens a repetirem a jornada dezenas de vezes por dia, em troca de uma pequena porcentagem do que encontravam.

A Lei da Selva

A ausência do Estado nos primeiros meses permitiu a criação de uma sociedade paralela, com suas próprias regras e hierarquias. A violência era endêmica, e a lei era ditada pelos mais fortes e pelo código de honra do garimpo. Prostituição, jogos de azar e assassinatos eram comuns. A posse de uma arma era, para muitos, uma necessidade de sobrevivência.

Momentos de Tensão

A tensão era constante, e disputas por um pedaço de terra ou por uma grama de ouro podiam terminar em morte. A vida em Serra Pelada era uma aposta diária, onde a esperança e o desespero andavam lado a lado. A solidariedade entre os garimpeiros existia, mas era frágil e muitas vezes se desfazia diante da possibilidade de encontrar uma grande pepita.

A Intervenção Federal e o Major Curió

A Ordem e o Conflito

A dimensão que o garimpo tomou atraiu a atenção do governo militar, que em 1980 interveio na região. O Major Sebastião Curió foi nomeado para comandar Serra Pelada, impondo uma ordem militarizada. Apesar da tentativa de controle, os conflitos entre garimpeiros e a polícia eram frequentes, como mostra a foto de Sebastião Salgado.

O Declínio e o Fim de um Sonho

O Rosto da Exaustão

A partir de 1984, a produção de ouro começou a cair drasticamente. Os depósitos superficiais se esgotaram, e a cava atingiu uma profundidade que tornava a extração manual inviável. A imagem do garimpeiro solitário, coberto de lama, reflete a exaustão e a desilusão que tomaram conta de muitos que não encontraram a riqueza prometida.

O Legado da Cratera

Em 1992, o garimpo foi oficialmente fechado, deixando para trás um legado de destruição ambiental e sonhos desfeitos. A grande cratera foi inundada, formando um lago tóxico que é um triste lembrete da febre do ouro. A montanha de 150 metros de altura havia se transformado em uma ferida aberta na paisagem amazônica.

O Legado de Serra Pelada

A Memória e a Camaraderia

Apesar da dureza, existiam momentos de camaradagem e descanso. O legado de Serra Pelada é complexo. Por um lado, representou uma oportunidade de enriquecimento rápido para alguns. Por outro, foi um palco de exploração, violência e devastação ambiental. As fotografias de Sebastião Salgado imortalizaram essa saga, transformando os garimpeiros anônimos em símbolos da condição humana.