
The Falling Man: A Trágica Foto que a América Quis Esquecer

Uma fotografia pode mudar tudo. Em 11 de setembro de 2001, o fotógrafo Richard Drew apontou sua câmera para o céu de Nova York. Ele capturou uma imagem que chocou o mundo: The Falling Man. No dia seguinte, a foto estava em centenas de jornais. Uma semana depois, havia desaparecido. A América decidiu que não queria ver aquela verdade.
O Dia que Parou o Mundo
Às 8h46 da manhã, um avião atingiu a Torre Norte do World Trade Center. O impacto bloqueou todas as saídas. Mais de mil pessoas ficaram presas nos andares superiores. O fogo se espalhou rápido. A temperatura chegou a 1.000 graus. Não havia como descer.
As janelas se tornaram a única fonte de ar. Pessoas se aglomeravam nas aberturas. Tentavam respirar. Tentavam escapar do calor insuportável. Então começaram as quedas. Uma pessoa. Depois outra. Cerca de 200 pessoas caíram das torres naquela manhã. Cada uma enfrentou uma escolha que ninguém deveria enfrentar.
O Fotógrafo e Sua Câmera

Richard Drew, fotógrafo da Associated Press, capturou a icônica imagem The Falling Man em 11 de setembro de 2001. Com mais de 50 anos de carreira no fotojornalismo, Drew também fotografou o assassinato de Robert Kennedy em 1968. Ele defende que documentar a realidade, mesmo quando dolorosa, é essencial para compreender a história.
Richard Drew não planejava estar lá. Ele trabalhava para a Associated Press há 30 anos. Naquele dia, estava fotografando um desfile de moda. Então seu editor ligou. Um avião havia atingido o World Trade Center. Drew pegou seu equipamento e correu para o metrô.
Quando chegou, as duas torres eram colunas de fumaça negra. Ele posicionou sua câmera e esperou. De repente, ouviu pessoas ao seu redor ofegarem. Olhou para cima. Pessoas estavam caindo. Ele apontou a câmera e começou a fotografar.
Drew não era estranho à tragédia. Em 1968, ele estava atrás de Robert Kennedy quando o senador foi assassinado. Mas ele nunca parou de fotografar. “Meu trabalho é documentar”, ele explica. “Não cabe a mim julgar.”
A Imagem que Dividiu uma Nação
De volta ao escritório, Drew olhou as fotos em seu laptop. Uma delas saltou da tela. Um homem caindo em perfeita vertical. Seus braços ao lado do corpo. Uma perna ligeiramente dobrada. Ele parecia calmo. Como se tivesse aceitado seu destino.
A foto tinha algo único. O homem dividia as torres ao meio. Tudo à esquerda era a Torre Norte. Tudo à direita, a Torre Sul. Havia uma simetria quase artística. Mas era real. Terrivelmente real.
Drew enviou a imagem para a Associated Press. Na manhã seguinte, ela apareceu no New York Times. Apareceu em jornais do mundo inteiro. A reação foi imediata. Telefones tocaram sem parar. Leitores estavam furiosos. Famílias protestaram. Editores se desculparam.
Em poucos dias, a foto desapareceu dos jornais americanos. Não por censura oficial. Mas por um acordo silencioso. Algumas coisas eram dolorosas demais para ver.
Por Que a América Rejeitou a Foto?
A imagem forçava uma pergunta impossível. O que você faria naquela situação? Ninguém queria imaginar estar naquela torre. Ninguém queria pensar naquele calor, naquela fumaça, naquela escolha.
A América queria lembrar os heróis. Os bombeiros subindo as escadas. As pessoas que se ajudaram. Não queria lembrar as pessoas que caíram. Porque isso tornava a tragédia pessoal demais. Real demais.
Mas Richard Drew não se arrepende. “Se não mostrarmos a realidade, como as pessoas vão entender?”, ele argumenta. A foto não é sensacionalista. É honesta. Ela documenta algo que realmente aconteceu.
Quem Era o Homem na Foto?
A pergunta assombrou jornalistas por anos. Em 2003, o escritor Tom Junod investigou para a revista Esquire. O nome mais provável: Jonathan Eric Briley. Ele tinha 43 anos. Trabalhava como técnico de áudio no restaurante Windows on the World, no topo da Torre Norte.
Colegas de Jonathan pensaram que poderia ser ele. A roupa parecia certa. O tipo físico também. Mas a família Briley nunca confirmou. A mãe de Jonathan recusou-se a olhar para a foto. “Não é meu filho”, ela disse.
Por quê? Talvez porque confirmar significasse aceitar como ele morreu. Significava imaginar seus últimos momentos. Então a família escolheu não saber. E essa escolha merece respeito.
O homem na foto permanece oficialmente não identificado. Ele se tornou um símbolo. Um “Soldado Desconhecido” de uma guerra contra o terror. Representa todos que enfrentaram aquela escolha impossível.
O Debate que Continua
A fotografia levanta questões difíceis. Qual é o papel do fotojornalismo? Documentar a verdade ou proteger a dignidade? Não há resposta fácil.
Em 2006, um documentário chamado “9/11: The Falling Man” examinou a foto e a busca pela identidade. O filme reacendeu o debate. Algumas pessoas acharam importante confrontar a realidade completa daquele dia. Outras sentiram que era reabrir feridas antigas.
A verdade é esta: cerca de 200 pessoas caíram das torres. Elas existiram. Elas enfrentaram uma escolha terrível. Fingir que isso não aconteceu não honra sua memória.
Uma Memória que Permanece
Hoje, mais de 20 anos depois, a foto raramente é publicada nos Estados Unidos. Mas ela existe nos arquivos. Existe na memória coletiva. Ela lembra que o 11 de setembro não foi apenas sobre edifícios caindo. Foi sobre pessoas. Pessoas reais com famílias, sonhos e vidas.
O Memorial do 11 de Setembro em Nova York lista todos os nomes. Não distingue como cada pessoa morreu. Todos são lembrados igualmente. Todos são honrados. Porque todos eram vítimas da mesma tragédia.
Richard Drew continua fotografando. Aos 78 anos, ainda trabalha para a Associated Press. Ele é mais conhecido por uma foto que a maioria prefere não ver. Mas ele entende. “É uma imagem difícil”, ele admite. “Mas era um dia difícil.”
A fotografia The Falling Man não é sobre morte. É sobre humanidade e dignidade diante do impossível. Representa um momento congelado que nos força a lembrar a verdade completa de uma tragédia. E talvez, ao lembrar, possamos honrar verdadeiramente aqueles que a viveram.