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Morro da Providência – A Primeira Favela do Brasil

Morro da Providência – A Primeira Favela do Brasil

O Morro da Providência, situado no coração do Rio de Janeiro, é amplamente reconhecido como a primeira favela do Brasil. Sua história remonta ao final do século XIX, quando soldados retornando da Guerra de Canudos, junto com ex-escravos e outros grupos marginalizados, começaram a ocupar o morro. O surgimento da Providência reflete questões sociais e urbanas complexas, que envolvem desigualdade, falta de infraestrutura e a ausência de políticas públicas para atender populações excluídas. Analisando suas origens, é possível compreender como essa comunidade moldou a dinâmica das favelas no Brasil e se tornou um símbolo de cultura e resistência.

A Guerra de Canudos e o Morro da Favela

A origem do Morro da Providência está intimamente ligada à Guerra de Canudos, um conflito que aconteceu entre 1896 e 1897 no interior da Bahia. Após a vitória do exército brasileiro contra os seguidores de Antônio Conselheiro, os soldados que participaram da guerra retornaram ao Rio de Janeiro, sem as promessas de pagamento ou moradia cumpridas. Sem opções, muitos desses veteranos começaram a ocupar terrenos abandonados e elevados próximos ao centro da cidade, como o Morro da Providência.

O nome inicial foi de Morro da Providência”, em referência à providência tomada por conta própria pelos soldados egressos da guerra. Esses soldados posteriormente batizaram o local de “Morro da Favela”, em alusão à planta faveleira, típica da região de Canudos. A planta espinhosa crescia em abundância nos arredores do campo de batalha, e o nome acabou sendo atribuído à nova ocupação, marcando o surgimento da primeira favela do Brasil.

Além dos soldados, ex-escravos recém libertados após a abolição da escravidão em 1888 também encontraram no Morro da Providência um refúgio. Sem acesso à moradia nas áreas urbanas, muitos ex-escravos foram empurrados para os morros e periferias, criando uma mistura de diferentes grupos marginalizados na favela. A falta de oportunidades de trabalho formal e a discriminação racial agravaram ainda mais as condições de vida dessas populações, que viviam em habitações precárias e improvisadas.

O Crescimento Desordenado e a Pobreza Persistente do Morro da Providência

O Morro da Providência, como a primeira favela do Brasil, representa a complexa história de desigualdade, resistência e cultura que caracteriza muitas comunidades marginalizadas nas grandes cidades brasileiras. Desde suas origens no final do século XIX até os desafios contemporâneos, a Providência é um reflexo das profundas contradições sociais e urbanas que moldaram o Rio de Janeiro e o Brasil. Contudo, sua história também é uma demonstração da resiliência de seus moradores, que transformaram a favela em um espaço de luta, cultura e identidade. Foto por Fabrício Horta.

O Morro da Providência, como a primeira favela do Brasil, representa a complexa história de desigualdade, resistência e cultura que caracteriza muitas comunidades marginalizadas nas grandes cidades brasileiras. Desde suas origens no final do século XIX até os desafios contemporâneos, a Providência é um reflexo das profundas contradições sociais e urbanas que moldaram o Rio de Janeiro e o Brasil. Contudo, sua história também é uma demonstração da resiliência de seus moradores, que transformaram a favela em um espaço de luta, cultura e identidade. Foto por Fabrício Horta.

Ao longo dos primeiros anos do século XX, o Morro da Providência cresceu significativamente, à medida que mais pessoas sem acesso a moradia digna continuaram a chegar. O crescimento desordenado do morro refletia a falta de ausência de políticas públicas eficazes e planejamento urbano para atender às necessidades dos moradores. Com casas construídas de forma improvisada e em terrenos íngremes e instáveis, a comunidade enfrentava constantes desafios, como deslizamentos de terra e inundações, especialmente durante a estação chuvosa.

As condições de vida no Morro da Providência eram marcadas pela ausência de serviços públicos essenciais, como água potável, eletricidade e saneamento básico. Os moradores viviam em casas feitas de materiais simples e enfrentavam a constante ameaça de despejos e remoções forçadas. A precariedade das habitações e a falta de infraestrutura aumentavam os riscos à saúde, com surtos frequentes de doenças como cólera e tuberculose.

A Providência também se tornou um reflexo da urbanização desigual do Rio de Janeiro, onde as elites ocupavam os terrenos planos e bem localizados, enquanto os pobres eram forçados a se estabelecer nas encostas dos morros.  O morro se tornou um símbolo da pobreza urbana e da marginalização social no Brasil, um contraste gritante com a opulência dos bairros vizinhos mais abastados.

Ao longo do século XX, o Morro da Providência enfrentou várias tentativas de remoção por parte do poder público. Essas ações faziam parte de um esforço maior para “modernizar” o Rio de Janeiro e remover as favelas das áreas centrais e mais visíveis da cidade. Em muitos casos, as remoções eram justificadas sob o pretexto de garantir a segurança dos moradores, devido ao risco de deslizamentos e enchentes.

A Cultura da Resistência e o Nascimento do Samba

Apesar das adversidades, o Morro da Providência tornou-se um espaço fértil para a criação cultural. A comunidade desenvolveu uma identidade própria, baseada na solidariedade e no senso de coletividade, onde a música desempenhava um papel central. O samba, um dos gêneros musicais mais icônicos do Brasil, floresceu nas favelas cariocas, e a Providência foi uma das áreas pioneiras no desenvolvimento desse estilo.

Com influências africanas, indígenas e europeias, o samba emergiu como uma forma de expressão da cultura negra e da resistência das classes populares. As rodas de samba no Morro da Providência tornaram-se um importante ponto de encontro para músicos e compositores, que usavam a música para expressar as lutas cotidianas e os sonhos de ascensão social.

Legado Cultural do Morro da Providência

O Morro da Providência também contribuiu significativamente para a formação da identidade cultural do Rio de Janeiro e do Brasil como um todo. Além do samba, a favela foi palco de diversas manifestações culturais, como blocos carnavalescos, festas populares e movimentos artísticos. A riqueza cultural da Providência tornou-se uma marca registrada das favelas brasileiras, desafiando a visão estigmatizante e negativa que muitos tinham dessas comunidades.

Estigmatização e Violência nas Favelas do Rio de Janeiro

A partir das décadas de 1980 e 1990, a violência nas favelas cariocas se intensificou, em grande parte devido à ausência do Estado e expansão do tráfico de drogas. O Morro da Providência, como muitas outras favelas do Rio de Janeiro, tornou-se palco de confrontos entre grupos criminosos e a polícia, agravando ainda mais as condições de vida dos moradores e reforçando o estigma negativo associado às favelas.

A estigmatização da Providência e de outras favelas como locais de criminalidade e violência levou à marginalização dos moradores e ao aprofundamento das desigualdades sociais. O medo e o preconceito contribuíram para a exclusão dessas comunidades do restante da cidade e para a perpetuação de políticas repressivas em vez de iniciativas de desenvolvimento social.

Nas últimas décadas, o Morro da Providência tem sido alvo de projetos de urbanização que visam melhorar as condições de vida dos moradores e infraestrutura da favela. A implementação de programas como o “PAC Favelas”, por exemplo, trouxe investimentos em habitação, saneamento e segurança para a comunidade, embora muitas dessas iniciativas tenham sido criticadas por não atenderem plenamente às demandas dos moradores.

Referências
Kossoy, Boris. Um olhar sobre o Brasil: A fotografia na construção da imagem da nação (1833 – 2003). 1° edição. São Paulo: Fundación Mapfre e Editora Objetiva, 2012.
“Origem do Termo Favela”. Rio On Watch.
Aldeias do Mal. Revista de História da Biblioteca Nacional.
Valladares, Licia do Prado. A Invenção da Favela: Do Mito de Origem a Favela.com. Editora FGV, 2005.
Abreu, Maurício de Almeida. Evolução Urbana do Rio de Janeiro. IPLANRIO, 1987.
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