Brasília – Os Candangos Concretados Durante a Construção
A construção de Brasília, a nova capital do Brasil, começou em 1956 sob a liderança do presidente Juscelino Kubitschek. A meta era transformar o plano de uma cidade moderna e planejada em realidade, com o objetivo de promover a integração do país e impulsionar o desenvolvimento do interior. Contudo, a construção em larga escala revelou desafios imensos e trouxe tragédias que muitas vezes passaram despercebidas.
O Projeto da Construção de Brasília
O projeto de Brasília foi concebido pelo arquiteto Oscar Niemeyer e pelo urbanista Lúcio Costa. A construção exigia um esforço monumental, com a participação de milhares de trabalhadores (conhecidos como candangos) que enfrentaram condições extremamente difíceis. Com o tempo, o projeto tornou-se um símbolo da modernidade, mas também trouxe à tona as duras realidades da construção em massa.
A construção de Brasília ocorreu em um ambiente árido e remoto, longe dos centros urbanos estabelecidos. Os trabalhadores enfrentaram condições de trabalho severas, com pouco acesso a infraestrutura básica, como água potável e condições sanitárias adequadas. Além disso, a segurança nos canteiros de obras era precária, o que aumentava os riscos associados às tarefas diárias.
Casos de Mortes “Concretadas”
Entre as tragédias mais marcantes estavam os acidentes fatais resultantes do contato direto com o concreto. Em vários eventos durante a construção dos edifícios e estruturas de Brasília, trabalhadores foram mortos devido ao colapso de formas de concreto ou ao despejo inadequado de concreto fresco. Os termos “concretado” ou “concretagem” referem-se a essas mortes trágicas.
A construção de grandes estruturas de concreto, como o Congresso Nacional, Palácio da Alvorada (foto da capa) e Supremo Tribunal Federal, envolveu o uso intensivo de estruturas provisórias. Quando essas formas falhavam ou eram manipuladas de maneira inadequada, os trabalhadores podiam ser tragicamente presos no concreto em solidificação, resultando em mortes horríveis e muitas vezes inevitáveis.
1001 Coisas Que Aconteceram em Brasília e Você Não Sabia
No livro “1001 Coisas Que Aconteceram em Brasília e Você Não Sabia”, Hélio Queiroz conta que durante a construção do grande projeto, em decorrência da urgência para a sua inauguração, a segurança dos “candangos”, operários que ergueram Brasília, foi relegada a segundo plano. Dessa forma, não era incomum que os trabalhadores sofressem acidentes e caíssem dentro das paredes de concreto entre as vigas que estavam sendo levantadas. Com pouco tempo a se perder, a solução controversa era jogar cimento em cima e continuar com o projeto.
“Reza a lenda que o auditório “Dois Candangos” da UnB tem esse nome porque dois candangos morreram na concretagem da obra. Acidentes de obra devem ter acontecido muitos na época, porque as leis eram muito frouxas, e no meio do mato, sem fiscalização, distante da delegacia que ficava em Goiânia, praticamente ao Deus dará.” – Hélio Queiroz
Assim, quem anda por Brasília não imagina que nas paredes dos prédios da Esplanada e dos Ministérios existem corpos que ali jazem quase esquecidos.
“Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
[…] E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido”– Construção, Chico Buarque.
Impacto
Embora a construção de Brasília tenha sido um marco histórico para o Brasil, também trouxe à tona questões sobre o tratamento dos trabalhadores e a gestão de riscos em projetos de grande escala. A memória dos trabalhadores que perderam a vida na construção de Brasília continua a ser um lembrete das duras realidades enfrentadas por aqueles que contribuíram para a realização de projetos ambiciosos e transformadores.