Selecione a página

Galena: O Encouraçado que Recebeu 44 Tiros em 1862

Galena: O Encouraçado que Recebeu 44 Tiros em 1862

Uma fotografia mostra o convés do USS Galena após a batalha. Tripulantes caminham entre os destroços. Canhões apontam para o céu. Três grandes buracos atravessam o casco de madeira. Esta imagem captura o momento em que a Marinha dos Estados Unidos aprendeu uma lição brutal sobre blindagem naval.

A Corrida pelo Primeiro Encouraçado

Agosto de 1861. A Guerra Civil Americana estava apenas começando. Uma notícia alarmante chegou a Washington: os Confederados estavam construindo um monstro de ferro. O CSS Virginia, feito dos restos do USS Merrimack, prometia dominar os mares.

O Congresso reagiu rápido. Aprovou 1,5 milhão de dólares em 3 de agosto. Três dias depois, anúncios pediam propostas para “navios a vapor blindados de guerra”. Gideon Welles, Secretário da Marinha, criou o Ironclad Board. Sua missão? Avaliar designs e escolher os melhores.

Cornelius Bushnell já estava um passo à frente. Em junho, ele havia encomendado um design de Samuel H. Pook por 1.500 dólares. Pook era respeitado. Havia projetado o sloop Owasco, da classe Unadilla. Bushnell apostou que seu lance mais barato seria aceito. Estava certo.

O Design Arriscado do Galena

O projeto era ambicioso. Um casco de madeira coberto com placas de ferro. Quatro canhões Dahlgren de 9 polegadas. Dois rifles Parrott de 100 libras. Motor a vapor de 800 cavalos. Velocidade de 8 nós. Parecia perfeito no papel.

Mas havia um problema crítico. A blindagem tinha apenas 79 milímetros de espessura. Para comparação, o CSS Virginia tinha o dobro disso. Engenheiros alertaram sobre a fragilidade. Mas a pressão era enorme. A União precisava de navios blindados. E precisava rápido.

A construção começou dois dias após aprovação do Senado. Maxson, Fish & Co., em Mystic, Connecticut, trabalhou dia e noite. Em 14 de fevereiro de 1862, o navio foi lançado. Dois meses depois, em 21 de abril, foi comissionado. O Galena estava pronto para a guerra.

USS Galena Rumo à Batalha no Rio James

Aquarela do USS Galena em ação durante a Guerra Civil Americana. A ilustração mostra o design de "broadside ironclad" do navio, com blindagem nas laterais e canhões posicionados para fogo lateral. Construído em Mystic, Connecticut, o Galena foi um dos três primeiros encouraçados da Marinha dos Estados Unidos. Com 950 toneladas, 210 pés de comprimento e armamento de quatro canhões Dahlgren de 9 polegadas, representava tecnologia naval de ponta em 1862. Fonte: Civil War Signals / U.S. Naval Historical Center

Aquarela do USS Galena em ação durante a Guerra Civil Americana. A ilustração mostra o design de “broadside ironclad” do navio, com blindagem nas laterais e canhões posicionados para fogo lateral. Construído em Mystic, Connecticut, o Galena foi um dos três primeiros encouraçados da Marinha dos Estados Unidos. Com 950 toneladas, 210 pés de comprimento e armamento de quatro canhões Dahlgren de 9 polegadas, representava tecnologia naval de ponta em 1862. Fonte: Civil War Signals / U.S. Naval Historical Center

Primavera de 1862. A Campanha da Península estava em andamento. Forças da União avançavam em direção a Richmond, capital Confederada. O Rio James era a chave. Controlar o rio significava isolar Richmond.

O Galena foi designado para o North Atlantic Blockading Squadron. Sua missão? Navegar rio acima e bombardear fortificações Confederadas. Apoiar tropas terrestres. Demonstrar o poder da nova tecnologia naval. Tudo parecia possível.

Os Confederados não estavam dormindo. Em Drewry’s Bluff, a 13 quilômetros de Richmond, construíram Fort Darling. Um penhasco de 27 metros dominava o rio. Canhões pesados foram posicionados. Obstruções foram colocadas no rio. Era uma armadilha perfeita.

15 de Maio: O Galena Sob Fogo

Manhã de 15 de maio de 1862. O encouraçado navegou rio acima em direção a Drewry’s Bluff. Outros navios da União seguiam atrás. O USS Monitor, herói da batalha contra o CSS Virginia, também estava presente. A confiança era alta.

Às 7h45, o fogo começou. O navio se posicionou a cerca de 550 metros da bateria Confederada. Distância perigosamente curta. Mas necessária para que seus canhões alcançassem o alvo. Os outros navios de madeira ficaram mais atrás. Sabiam que eram vulneráveis.

O Monitor tentou ajudar. Mas seus canhões não conseguiam elevar o suficiente. O design que funcionou perfeitamente contra o Virginia era inútil contra fortificações em penhascos. O Galena estava sozinho.

Os Confederados responderam com fúria. Canhões de Fort Darling trovejaram. Projéteis choveram sobre o encouraçado. Um acertou. Depois outro. E mais outro. A tripulação continuou lutando. Carregavam. Disparavam. Tentavam acertar a bateria inimiga.

Quarenta e Quatro Impactos Devastadores no Casco do Galena

O bombardeio durou horas. Quando finalmente terminou, a contagem era assustadora. O navio havia sido atingido 44 vezes. Treze tiros perfuraram a blindagem como se fosse papel. Três grandes buracos atravessaram o casco. Água começou a entrar.

No convés, o caos reinava. Treze tripulantes estavam mortos. Onze feridos. Sangue manchava a madeira. Destroços espalhados por todo lado. O navio que deveria ser invencível estava destruído. E mal conseguiu causar dano ao inimigo.

O fogo foi “em grande parte ineficaz”. Conseguiu matar sete Confederados e ferir outros oito. Mas não silenciou a bateria. Não tomou o forte. Não abriu caminho para Richmond. A missão havia falhado completamente.

Três homens se destacaram na tragédia. Charles Kenyon, bombeiro, manteve as caldeiras funcionando sob fogo pesado. Jeremiah Regan, intendente, cuidou dos feridos enquanto projéteis explodiam ao redor. John F. Mackie, cabo dos Fuzileiros Navais, liderou sua unidade com coragem excepcional.

A Primeira Medalha de um Fuzileiro

Os três receberam a Medalha de Honra. Para Kenyon e Regan, era reconhecimento merecido. Mas para Mackie, era histórico. Ele se tornou o primeiro Fuzileiro Naval dos Estados Unidos a receber a mais alta condecoração militar do país. Um momento de orgulho em meio ao desastre.

A batalha provou o que engenheiros temiam. Blindagem fina não funcionava. O design era fundamentalmente falho. Navios blindados precisavam de proteção adequada. Ou seriam apenas alvos caros.

A Marinha agiu rápido. Em 1863, o encouraçado foi reconstruído. A maior parte da blindagem foi removida. Transformaram-no em um navio de madeira convencional. Não era mais um encouraçado. Era apenas mais um navio de guerra comum.

Uma Segunda Chance em Mobile Bay

Mas a história não terminou em Drewry’s Bluff. Em 1864, foi transferido para o West Gulf Blockading Squadron. Participou da Batalha de Mobile Bay em agosto. Desta vez, sem a pressão de ser um “navio invencível”, desempenhou bem seu papel.

Ajudou no Cerco de Fort Morgan que se seguiu. Bombardeou posições Confederadas. Apoiou tropas terrestres. Fez exatamente o que um navio de guerra deveria fazer. Sem a armadura pesada, era mais rápido e manobrável.

Em setembro, foi brevemente transferido para o East Gulf Blockading Squadron. Novembro trouxe ordens para ir a Filadélfia para reparos. Os anos de combate haviam cobrado seu preço. O casco precisava de atenção. As máquinas precisavam de manutenção.

Reparos foram concluídos em março de 1865. Rejoinou o North Atlantic Blockading Squadron em Hampton Roads em abril. Mas a guerra estava terminando. Robert E. Lee se rendeu em 9 de abril. A Confederação estava colapsando. Não haveria mais batalhas.

O Fim de Uma Era

Junho de 1865. A Guerra Civil havia terminado. A União estava vitoriosa. Mas não precisava mais de tantos navios. O USS Galena foi descomissionado em Portsmouth, New Hampshire. Sua guerra havia acabado.

Ficou ancorado por anos. Em 1869, foi transferido para Hampton Roads. Em 1870, foi oficialmente condenado. Não valia a pena mantê-lo. A tecnologia naval estava evoluindo rápido. Navios como ele já eram obsoletos.

Em 1872, foi desmontado para sucata. Suas placas de ferro foram derretidas. Sua madeira foi queimada. Nada restou do navio que havia sido um dos três primeiros encouraçados da Marinha dos Estados Unidos. Exceto as lições que ensinou.

Lições que Moldaram o Futuro

O USS Galena foi considerado um fracasso. E foi. Sua blindagem era inadequada. Seu design era falho. Na hora decisiva, não conseguiu cumprir sua missão. Mas os fracassos às vezes ensinam mais que os sucessos.

A Marinha aprendeu que blindagem precisa ser adequada. Que testes são essenciais antes do combate. Designs híbridos têm limitações e manobrabilidade e velocidade importam tanto quanto proteção. Essas lições moldaram a próxima geração de navios de guerra.

Drewry’s Bluff também ensinou algo importante. Fortificações costeiras bem posicionadas podiam derrotar navios blindados. Altura dava vantagem decisiva. Obstruções no rio impediam manobras. Defesas em profundidade funcionavam. Os Confederados provaram isso.

E a Medalha de Honra de John F. Mackie estabeleceu precedente. Fuzileiros Navais não eram apenas soldados em navios. Eram combatentes essenciais. Mereciam reconhecimento igual. Sua coragem sob fogo era tão importante quanto qualquer outra.

Um Pioneiro Imperfeito

Sete anos após Drewry’s Bluff, o navio virou sucata. Mas seu legado permaneceu. Foi um dos pioneiros. Um dos primeiros a testar tecnologia revolucionária. Também foi dos primeiros a aprender lições dolorosas e mostrar o caminho.

A Guerra Civil Americana foi um laboratório naval. Navios blindados, torpedos, minas, submarinos – tudo foi testado. Alguns designs funcionaram. Outros falharam. O Galena estava entre os que falharam. Mas seu fracasso foi necessário.

Sem ele, a Marinha não teria aprendido sobre blindagem adequada tão cedo. Drewry’s Bluff, mostrou as limitações de navios blindados. As 44 perfurações em seu casco redesenharam a próxima geração de encouraçados.

A fotografia do convés danificado conta essa história. Mostra o preço da inovação. O custo da guerra. A realidade da tecnologia imperfeita. E a coragem dos homens que lutaram mesmo quando seu navio não os protegia.

Referências:
Wikipedia. USS Galena (1862).
Naval History & Heritage Command. USS Galena (1862-1872). Dictionary of American Naval Fighting Ships.
Coski, J. M. Capital Navy: The Men, Ships and Operations of the James River Squadron. New York: Savas Beatie.
Library of Congress. (1862). USS Galena after Battle of Drewry’s Bluff [Photograph by James F. Gibson]. U.S. Naval Historical Center Photograph. ID: NH 53984.
Connecticut History. Mystic-built USS Galena Part of Plan to Strengthen Union Navy.
Avalie!