
Padre Mychal Judge: A Primeira Vítima do 11 de Setembro

Uma fotografia pode congelar um momento de heroísmo e sacrifício. Em 11 de setembro de 2001, cinco homens carregaram um corpo para fora da Torre Norte do World Trade Center. O homem usava batina preta de padre. Seus braços pendiam. O rosto estava sereno. A foto, tirada por Shannon Stapleton da Reuters, percorreu o mundo. Foi comparada à Pietà de Michelangelo. E o homem era o Padre Mychal Judge, capelão do Departamento de Bombeiros de Nova York. O padre recebeu o certificado de óbito número 00001. A primeira vítima oficial dos ataques de 11 de setembro.
Mychal Judge: O Menino que Engraxava Sapatos
Mychal Judge nasceu Robert Emmett Judge em 11 de maio de 1933, no Brooklyn. Seus pais eram imigrantes irlandeses. Ele era o mais velho de gêmeos fraternos. Sua irmã Dympna nasceu dois dias depois. A família cresceu durante a Grande Depressão. A vida era difícil.
Dos três aos seis anos, Mychal assistiu seu pai sofrer e morrer de mastoidite. Uma doença dolorosa do crânio e do ouvido interno. Após a morte do pai, o menino precisava ajudar a família. Ele engraxava sapatos na Penn Station. Mas sempre visitava a Igreja de São Francisco de Assis, do outro lado da rua.
Por lá, ele via os frades franciscanos. Homens simples em túnicas marrons e sandálias. “Percebi que não me importava com coisas materiais”, disse mais tarde. “Eu sabia então que queria ser um frade.” Aos 15 anos, começou sua formação. Em 1961, foi ordenado padre. Mudou seu nome de Michael para Mychal. Para se diferenciar de todos os outros “Padre Michael”.
Mychal Judge: O Capelão dos Bombeiros
Mychal Judge serviu em várias paróquias ao longo dos anos. Em 1971, desenvolveu alcoolismo. Mas em 1978, com ajuda dos Alcoólicos Anônimos, ficou sóbrio. Judge ompartilhava sua história para ajudar outros com vícios. Em 1986, foi designado para a Igreja de São Francisco de Assis em Manhattan. O mesmo lugar onde havia decidido ser frade quando criança.
Em 1992, Judge foi nomeado capelão do Departamento de Bombeiros de Nova York. Ele amava o trabalho. Oferecia encorajamento e orações em incêndios, resgates e hospitais. Aconselhava bombeiros e suas famílias. Frequentemente trabalhava 16 horas por dia. “Todo o ministério dele era sobre amor”, disse um amigo. “Mychal amava o departamento de bombeiros. E eles o amavam.”
Mas Judge não ministrava apenas para bombeiros. Ele era conhecido em toda Nova York. Ajudava sem-teto, famintos, alcoólicos em recuperação. Trabalhou extensivamente com pacientes de AIDS. Ajudou a iniciar o primeiro setor de AIDS do St. Clare’s Hospital. Visitava hospitais, presidia funerais, aconselhava famílias. Uma vez deu seu casaco de inverno para uma mulher sem-teto. “Ela precisava mais do que eu”, ele disse.
Judge também era um advogado dos direitos LGBT. Marchava em paradas do orgulho. Quando ungiu um homem morrendo de AIDS, o homem perguntou: “Você acha que Deus me odeia?” Judge o pegou no colo, o beijou e o embalou em silêncio. Muitos o consideravam um santo vivo.
A Manhã de 11 de Setembro
Na manhã de 11 de setembro de 2001, Judge soube que um avião havia atingido o World Trade Center. O padre correu para o local. Encontrou-se com Rudolph Giuliani, o prefeito de Nova York. Giuliani pediu que ele rezasse pela cidade e pelas vítimas. Judge rezou sobre corpos nas ruas. Então entrou no lobby da Torre Norte, onde havia sido organizado um posto de comando de emergência.
Lá ele continuou oferecendo ajuda e orações. Para os socorristas, feridos e para os mortos. Ele estava fazendo o que sempre fazia. Estar presente. Oferecer conforto. Rezar.
Às 9h59 da manhã, a Torre Sul colapsou. Detritos voaram pelo lobby da Torre Norte. Muitos morreram instantaneamente. Judge foi atingido na cabeça. Testemunhas disseram que ele estava rezando em voz alta quando foi atingido. “Jesus, por favor, acabe com isso agora! Deus, por favor, acabe com isso!”
A Foto que Virou Símbolo

Socorristas carregam o corpo do padre Mychal Judge da Torre Norte do World Trade Center. Ele foi a primeira vítima identificada vítima identificada dos ataques de 11 de setembro de 2001.
Logo após sua morte, cinco homens encontraram o corpo de Judge. Bombeiros Christian Waugh e Zachary Vause. Tenente William Cosgrove. O civil John Maguire. E o paramédico Kevin Allen. Eles o carregaram para fora da torre. Colocaram-no em uma cadeira improvisada. E o levaram para a segurança.
Shannon Stapleton, fotógrafo da Reuters, capturou aquele momento. A foto mostra os cinco homens carregando Judge. Seu corpo está relaxado. Seus braços pendem. Há algo quase pacífico em sua expressão. A imagem foi comparada à Pietà de Michelangelo. A escultura que mostra Maria segurando o corpo de Jesus.
A fotografia foi publicada em jornais do mundo inteiro. Ela se tornou uma das imagens mais icônicas do 11 de setembro. Não mostrava destruição ou caos. Mostrava compaixão. Mostrava pessoas cuidando de um homem que havia dedicado sua vida a cuidar dos outros.
O corpo de Judge foi levado para a Igreja de São Pedro. Colocado diante do altar. Antes de ser levado pela ambulância e colegas do departamento de bombeiros. Este momento foi capturado no documentário “9/11” dos irmãos Jules e Gedeon Naudet.
O Certificado Número 00001
O certificado de óbito de Mychal Judge recebeu o número 00001. Ele foi oficialmente a primeira vítima identificada dos ataques de 11 de setembro. Não porque morreu primeiro. Mas porque foi o primeiro corpo identificado e processado.
Seu funeral foi realizado na Igreja de São Francisco de Assis. Mais de 3.000 pessoas compareceram. Bombeiros. Policiais. Políticos. Sem-teto. Pessoas com AIDS. Todos que ele havia tocado ao longo de sua vida. O ex-presidente Bill Clinton estava lá. O prefeito Giuliani fez o elogio. “Ele era um santo”, Giuliani disse. “Não há outra palavra para descrevê-lo.”
Padre Mychal Judge: Um Legado de Amor
Mychal Judge tinha uma oração que rezava todos os dias. Ela está gravada em seu memorial no Ground Zero:
“Senhor, leve-me onde você quer que eu vá. Deixe-me encontrar quem você quer que eu encontre. Diga-me o que você quer que eu diga. E mantenha-me fora do seu caminho.”
Era assim que ele vivia. Sempre disponível, presente e, acima de tudo, sempre servindo. Ele não se importava se você era rico ou pobre. Gay ou hétero. Católico ou não. Ele via cada pessoa como amada por Deus. E tratava cada um com dignidade e compaixão.
Em 27 de julho de 2002, a Orthodox-Catholic Church of America canonizou Judge como santo. Ele é conhecido como São Mychal Judge ou São Mychal, o Mártir. Há um santuário dedicado a ele em Lexington, Kentucky. Seu nome está gravado no Memorial do 11 de Setembro em Nova York, junto com todas as outras vítimas.
Lembrado como Herói

Memorial Nacional do 11 de Setembro em Nova York, localizado no Ground Zero onde ficavam as Torres Gêmeas. O memorial possui duas piscinas refletoras no lugar exato das torres, com os nomes de todas as 2.977 vítimas gravados em bronze. O nome de Mychal Judge está inscrito junto com todos os outros que perderam suas vidas naquele dia. Fonte: ILoveNY.com / New York State Tourism
Hoje, mais de 20 anos depois, Mychal Judge é lembrado como o “Santo do 11/9”. Não apenas porque morreu naquele dia. Mas por como viveu. Ele dedicou sua vida a servir os outros. A estar presente nos momentos mais difíceis. A oferecer amor quando outros ofereciam julgamento.
A fotografia de seu corpo sendo carregado permanece poderosa. Ela nos lembra que o 11 de setembro não foi apenas sobre destruição. Foi sobre pessoas que correram para o perigo para ajudar. Sobre compaixão em meio ao caos. Tratou-se de heróis comuns fazendo coisas extraordinárias.
Mychal Judge era um desses heróis. Ele não estava lá por obrigação. Estava lá porque era quem ele era. Um homem de amor, de fé e serviço. E quando os prédios caíram, ele estava exatamente onde deveria estar. Com as pessoas que precisavam dele.