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Ayrton Senna: Os Últimos Momentos da Lenda do Automobilismo

Ayrton Senna: Os Últimos Momentos da Lenda do Automobilismo

Uma fotografia captura um momento silencioso. Ayrton Senna está no cockpit da Williams. Seu capacete amarelo brilha sob o sol italiano. Mas algo está diferente naquele dia. Seus olhos revelam uma inquietação rara. Era 1º de maio de 1994. Ninguém sabia que seriam seus últimos momentos como piloto.

Um Fim de Semana Sombrio em Ímola

O Circuito de Ímola, na Itália, respirava tensão. Apenas um dia antes, Roland Ratzenberger havia morrido. O piloto austríaco sofreu um acidente fatal durante o treino classificatório. Era a primeira morte na Fórmula 1 desde 1982. Senna presenciou tudo pelas telas dos boxes. Ele cobriu o rosto com as mãos. Depois, entrou em um safety car. Foi até o local do acidente. Ratzenberger já havia sido levado ao centro médico. Mas Senna sabia. O pior havia acontecido.

Aquele fim de semana ficaria marcado como o mais sombrio da F1. Além da morte de Ratzenberger, Rubens Barrichello sofreu um acidente grave na sexta-feira. Vários outros incidentes menores assustaram os pilotos. A morte voltara à Fórmula 1 depois de 12 anos. Ninguém estava preparado para isso.

A Bandeira da Áustria no Bolso

Segundo o repórter Reginaldo Leme, da TV Globo, Senna tinha um plano. O piloto levava uma bandeira da Áustria no bolso do macacão. Era uma homenagem a Roland Ratzenberger. Senna planejava erguer a bandeira após vencer a corrida. Ele queria honrar o amigo austríaco que partira tão cedo. Após o acidente, a bandeira foi encontrada no cockpit. Ela nunca foi erguida. O gesto ficou guardado como símbolo de uma homenagem interrompida.

Momentos Antes da Largada

Ayrton Senna momentos antes da largada do GP de San Marino em Ímola, 1º de maio de 1994. Esta seria sua última corrida. O tricampeão mundial carregava uma bandeira da Áustria no bolso do macacão para homenagear Roland Ratzenberger, que havia morrido no dia anterior.

Ayrton Senna momentos antes da largada do GP de San Marino em Ímola, 1º de maio de 1994. Esta seria sua última corrida. O tricampeão mundial carregava uma bandeira da Áustria no bolso do macacão para homenagear Roland Ratzenberger, que havia morrido no dia anterior.

O jornalista Jaime Brito acompanhou Senna até a garagem da Williams. Pela primeira vez, pediu autógrafos ao tricampeão. Foram três fotos assinadas. Brito nunca havia visto Senna se comportar daquela forma. O piloto caminhava em círculos ao redor do carro. Olhava fixamente para os pneus. Repousava sobre a asa traseira. Parecia desconfiado do carro. Algo não estava certo.

Betise Assumpção, assessora de imprensa do brasileiro, notou a diferença. “Ele geralmente puxava a balaclava do capacete com determinação”, ela lembrou. “Naquele dia, pelo modo como colocava o capacete, dava para perceber que ele não queria correr.” Mas Senna não pensava em morrer. Ele achava que venceria a corrida. Porém, só queria acabar logo e ir para casa.

Williams FW16: O Carro Problemático

A Williams FW16 não era o que as pessoas esperavam. Após três títulos mundiais com a McLaren-Honda, Ayrton Senna se juntou à Williams em 1994. A equipe tinha o melhor motor da categoria, o Renault. Também contava com designers talentosos como Patrick Head e Adrian Newey. Mas havia um problema grave. O carro havia sido projetado para suspensão ativa, controle de tração e freios antitravamento. Porém, o regulador Max Mosley baniu todos esses sistemas eletrônicos.

Williams foi a única equipe que otimizou o chassi especificamente para suspensão ativa. Sem ela, o carro precisou ser redesenhado às pressas. Não houve tempo suficiente para testes. Senna reclamava constantemente sobre o manuseio pobre. Ele ligava para seu rival Alain Prost, agora aposentado, para desabafar. O carro era “aerodinamicamente instável”, segundo Adrian Newey. Além disso, o cockpit não era adequado para o corpo alto do brasileiro. Ele não se sentia confortável.

A Manhã do Dia 1º de Maio

Viviane Senna, irmã de Ayrton, revelou um detalhe tocante. Naquela manhã, Senna acordou e pediu para Deus falar com ele. Ele abriu a Bíblia aleatoriamente. Leu um texto que dizia que Deus lhe daria o maior presente de todos. Esse presente era o próprio Deus. Para a família Senna, essa passagem ganhou um significado profundo após o acidente. Era como se Ayrton tivesse recebido uma mensagem. Uma preparação espiritual para o que viria.

A Largada da Pole Position

Senna largou na pole position, como de costume. Ele era conhecido por suas largadas espetaculares. Mas naquele dia, a corrida começou de forma conturbada. Na primeira volta, houve um acidente envolvendo vários carros. O safety car entrou na pista. Durante cinco voltas, os pilotos seguiram em ritmo reduzido. Senna liderava, mas estava impaciente. Ele queria que a corrida recomeçasse logo. Queria vencer e ir embora.

A Sétima Volta de Ayrton Senna

Na sétima volta, o safety car saiu da pista. A corrida recomeçou. Senna acelerou em direção à curva Tamburello. Era uma curva rápida, de alta velocidade. De repente, o carro saiu da trajetória. Ele bateu violentamente na barreira de concreto. O impacto foi devastador. Análises posteriores revelaram que a coluna de direção havia quebrado. Senna perdeu o controle do carro no pior momento possível.

Não havia ossos quebrados no corpo de Senna. Também não havia hematomas graves. Mas o choque da barra de direção contra o capacete causou lesões neurológicas fatais. Aos 34 anos, Ayrton Senna da Silva deixava o mundo. Ele partiu fazendo o que amava. Mas partiu cedo demais.

Senna: Três Títulos Mundiais e o Início de Uma Lenda

Antes daquele dia fatídico, Senna já era uma lenda viva. Já havia conquistado três campeonatos mundiais com a McLaren-Honda. O primeiro veio em 1988, quando venceu oito corridas. Depois, repetiu o feito em 1990 e 1991. Sua rivalidade com Alain Prost marcou época. Os dois protagonizaram duelos memoráveis nas pistas. Senna era conhecido por sua velocidade sob chuva. Também era famoso por suas ultrapassagens ousadas. Muitos o consideravam o melhor piloto de todos os tempos.

Mas Senna era mais que um piloto rápido. Ele era um perfeccionista obcecado. Treinava intensamente. Estudava cada detalhe dos circuitos. Conversava horas com seus engenheiros. Ele queria entender cada aspecto do carro. Essa dedicação o tornava especial. Porém, também o tornava vulnerável quando as coisas não funcionavam. A Williams FW16 problemática o frustrava profundamente.

O Legado Que Permanece

A morte de Senna transformou a Fórmula 1 para sempre. A segurança passou a ser prioridade absoluta. O sindicato dos pilotos, a Grand Prix Drivers’ Association, foi restabelecido. Novas regras foram implementadas. Cockpits foram reforçados. Barreiras de proteção foram melhoradas. Capacetes ganharam padrões mais rigorosos. Circuitos foram redesenhados com zonas de escape maiores.

Durante 20 anos, a F1 não teve outro acidente fatal. Isso só mudou em 2014, com Jules Bianchi. O piloto francês sofreu ferimentos graves no GP do Japão. Biachi faleceu nove meses depois. Mas os avanços em segurança salvaram inúmeras vidas. Acidentes que seriam fatais nos anos 1990 tornaram-se sobrevivíveis. O legado do piloto vive em cada piloto que sai ileso de um acidente.

Senna Além das Pistas

No Brasil, Ayrton transcendeu o esporte. Ele se tornou um símbolo nacional. Representava determinação, excelência e superação. Mesmo décadas após sua morte, continua inspirando gerações. Seu funeral reuniu três milhões de pessoas nas ruas de São Paulo. Foi um dos maiores eventos da história brasileira. O país parou para se despedir de seu herói.

Para o Brasil e seus fãs no mundo, Senna será sempre jovem. Será sempre veloz. Para sempre, o campeão do Brasil e do mundo. Sua última frase resume sua filosofia de vida: “A ousadia em ser diferente reflete na sua personalidade, no seu caráter, naquilo que você é. E é assim que as pessoas lembrarão de você um dia.”

Referências:
Karonte. (2013). Os últimos momentos de Ayrton Sen.na.
Wikipedia. (2024). Death of Ayrton Senn.a.
Documentário. (2010). Ayrton Se.nna – Beyond of The Speed of The Sound. Depoimentos e imagens.
Motor Racing. Ayrton S.enna: The Last Hours. Recuperado de fontes especializadas em automobilismo.
Leme, R. (1994). Relatos sobre o GP de San Marino. TV Globo, cobertura jornalística.
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